Após fuga de área de conflito, indígenas que estão na Colônia do Daer, aguardam por moradia desde 2021
“Não é uma invasão. Estamos aqui para demarcar”, defende a vice-cacique
Vítimas de áreas de conflito, indígenas que estão na Colônia de Férias do Daer, no Cassino, desde o sábado (25), fugiram em 2021 de Ronda Alta, norte do estado do Rio Grande do Sul. Eles são da aldeia Tãnhve e saíram da região refugiados e escoltados pela Polícia Federal, até a cidade de Rio Grande. Desde então, buscam abrigo e moradia com a ajuda dos setores públicos.
A ação de acolhimento, em novembro de 2021, envolveu a prefeitura de Rio Grande e o Ministério Público. Ao todo, dez famílias, vinte e sete pessoas, foram abrigadas em duas casas cedidas pelo Hospital Psiquiátrico da Santa Casa do Rio Grande.
Segundo a vice-cacique da aldeia indígena, desde a chegada na cidade, eles aguardam por uma solução, já que a medida de utilização das residências seria temporária e urgente, até possuírem espaços suficientes para todas as famílias.
“Esperamos até que conseguissem um espaço que desse para abrigar todas as famílias, mas não conseguiram, e o tempo que tínhamos na duas casas da Santa Casa já estava expirando.”
Sobre supostas ameaças atribuídas aos indígenas, a vice-cacique fala:
“A Polícia está aqui, mas até agora não existe nenhuma ameaça, e não atacamos ninguém também.”
A Brigada Militar está no local, desde a noite do sábado (25), oferecendo policiamento para a segurança de todos que residem na antiga colônia de férias do Daer.
Em um cartaz, pendurado no portão de entrada da colônia, os indígenas escreveram: “Pedimos respeito e dignidade neste momento. Levem em consideração a nossa luta! Não queremos violência. Aqui encontra-se crianças e gestantes. Paz! Levante pela Terra!”
A vice-cacique argumenta:
“Não é uma invasão e sim, uma retomada. Estamos aqui para demarcar.”
Disputa por terras e arrendamento de terras
O motivo que levou a fuga dos indígenas de sua aldeia, foi a busca por sobrevivência e segurança. Em um confronto, motivado pela disputa de terras, em outubro de 2021, dois indígenas foram assassinados. O conflito ocorreu devido ao arrendamento de terras indígenas, considerado ilegal, e que teve o cacique, na época, denunciado por suspeita de corrupção. A região já é conhecida por histórico de confrontos violentos quando em 2017, o então cacique foi assassinado, segundo a Polícia Federal, em uma emboscada.
Os indígenas da aldeia Tãnhve que estão em Rio Grande, esperam auxílio do poder público e em uma tentativa desesperada para chamar a atenção das autoridades, decidiram ocupar as residências da antiga colônia de férias do Daer.
“Nós não vamos sair daqui até termos uma solução. Até termos onde abrigar as dez famílias.”, disse a representante da aldeia Tãnhve.
A vice-cacique ainda explicou que a cacique da aldeia está em reuniões em Porto Alegre para pedir uma solução para as famílias: “Agora na retomada, a Funai e o Ministério Público estão a par desta situação. Estamos recorrendo aos órgãos competentes e ministério dos povos indígenas para atender a nossa demanda o mais imediato possível.” Ela fala sobre a retomada de atividades da Fundação Nacional do Índio, responsável pela promoção dos direitos básicos dos povos indígenas.
Até o momento, os indígenas ainda não possuem nenhuma resposta concreta dos poderes públicos sobre possibilidades de moradia. A Brigada Militar permanece no local monitorando a segurança em frente as residências da antiga colônia de férias do Daer, no Cassino. Segundo as informações, não há nenhuma intercorrência até o momento.
Jornalista Thuanny Cappellari/RIO GRANDE TEM
Foto: Arquivo Pessoal