Inspira

Aracnoesclerose

Sobrava poltrona para o corpo franzino do velho vingador. De seu auge sobrara apenas alguma elasticidade para caminhar pelos corredores do asilo.

Um universo inteiro de novas maravilhas voava pelo mundo, lembrando-se pouco, quase nada, os feitos do Quarteto Fantástico, Vingadores e X-Men. Senhor Parker sentia vontade de dar mais uns saltos por aí, rever o mundo, emaranhar uns bandidos. Mas não confiava mais em sua capacidade de prever ataques. E estava quase surdo.

Naquele dia, o velho acordou tonto, tendo que se agarrar nas paredes. Não chamou as cuidadoras, gostava de se virar sozinho, mostrar que conseguia. No jardim da Pousada Stark, previu o choque de uma abelha contra sua nuca. No banheiro, previu a queda da dentadura dentro do sanitário. “Ele” estava de volta.

Furtivo, vestiu-se de vermelho, saltou alguns prédios, sentiu os joelhos doerem e atentou a tudo que o sentido aranha captasse. O grilo em sua cabeça o mandou saltar. Depois, abaixar-se. Vinha um ataque de cima e um da direita. Os prédios sacudiam. Algo vinha do chão. Um trovão do céu, um tiro, uma bomba, o rugido do Hulk, a voz do Beyonder, o planador do Duende, uma explosão nuclear e o velho pôs as mãos na cabeça e caiu. Tudo ao redor, e mais o que guardava a memória, zunia em seus ouvidos.

Senhor Parker foi encontrado dias depois, em um beco, com as calças sujas, as mãos ainda na cabeça, gritando “Gwen, eu estou chegando. Aguenta mais um pouquinho”.

Autor: Rody Cáceres/Inspira

Foto: Pixabay

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