Caic fortalece vínculo entre universidade e comunidade durante a pandemia
UBSF, assistência social e escola criam estratégias de envolvimento entre docentes e famílias no distanciamento social
Desde que as medidas de resguardo social começaram em Rio Grande, inúmeras iniciativas de enfrentamento à Covid-19 vem sendo desenvolvidas a partir da universidade. Nesse contexto atípico, o Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic) tem proposto ações continuadas em saúde, assistência social e educação básica. O atendimento prestado ao longo do último mês mantém e fortalece o vínculo da FURG com a comunidade da Zona Oeste e reforça o reconhecido papel de articulação com o público externo que o Centro desempenha há quase 26 anos.
Ligado à Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proexc), o Caic abriga uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Cidade do Rio Grande, ambas com gestão compartilhada entre FURG e prefeitura. Com o calendário letivo da rede pública de ensino municipal suspenso desde 17 de março, a rotina do Centro mudou completamente.
Antes da interrupção das aulas o Caic já havia adotado medidas para evitar a propagação da Covid-19. “Fechamos bebedouros, disponibilizando água somente no refeitório, trocamos os nossos rotineiros abraços por cumprimentos de cotovelos, mantivemos as salas de aula arejadas e disponibilizamos todo o nosso pequeno estoque de álcool em gel. No dia 16 de março, último de aula, seguindo as orientações da Secretaria Municipal de Educação (Smed), distribuímos o hortifruti para a comunidade escolar”, informa em nota a equipe diretiva.
Atendimento normal e atenção redobrada à prevenção ao coronavírus na UBSF
Com a atividade letiva paralisada, áreas antes destinadas somente ao pedagógico foram disponibilizadas para que a UBSF funcionasse normalmente, com medidas de prevenção redobradas. No momento, o posto de saúde cumpre o calendário de vacinação da H1N1, atendendo o público prioritário, de idosos e de profissionais da saúde.
“Mesmo nesse período de isolamento, o Caic tem sido um espaço de muito contato com a comunidade externa, especialmente com a comunidade da zona oeste, dos bairros Castelo Branco I e II, Cibrazém, Maria dos Anjos, Profilurb, Vila Maria, Santa Rosa, dos bairros do entorno da universidade, que são os de maior vulnerabilidade do ponto de vista dos índices de desenvolvimento humano aqui da região da nossa cidade”, conta Daniel Prado, pró-reitor de Extensão e Cultura. “A gente continua nesse trabalho com muito cuidado”, diz.
O Caic fez o levantamento das necessidades das famílias de seu cadastro e segundo critério de vulnerabilidade estão sendo distribuídas cestas básicas compostas de alimentos da merenda escolar e itens de higiene pessoal, complementadas por doações do colegiado gestor e do corpo docente. Somam-se aos sacolões máscaras de proteção ao coronavírus, confeccionadas pelas professoras do Instituto de Educação (IE) e do Instituto de Letras e Artes (ILA).
Para a comunidade do entorno do Caic foi criado o Teleacolhimento Social, um serviço oferecido pela Proexc para garantir, no período de calamidade pública, atendimento por telefone ou WhatsApp ao usuário em situação de risco e de vulnerabilidade social. Desde que foi publicizado, no dia 27, até o momento, foram realizados 163 acolhimentos, dos quais 102 por mensagens e 61 por ligações.
A assistente social Fernanda da Fonseca Pereira conta que a procura pelo Teleacolhimento começou quando a informação do serviço apareceu na página do Centro no Facebook, a Acontece no Caic. As lideranças comunitárias tomaram conhecimento e a divulgação passou a ser feita pela comunidade dentro da comunidade. Fernanda explica que com o Teleacolhimento foi possível encaminhar as demandas espontâneas relatadas e também as reprimidas, que são identificadas no atendimento e importam ao acompanhamento social das famílias. “É uma estratégia que vem tendo resultado no acolhimento das demandas sociais da comunidade”, considera.
Pertencimento e diálogo, um método para manter vínculos com a escola durante o distanciamento
Assim como na FURG, na rede municipal de ensino o calendário escolar foi interrompido em decorrência da pandemia. Embora os decretos municipais de suspensão das atividades letivas considerem avaliação periódica da determinação, o cenário mundial não indica previsão segura de retorno ao convívio social. Na Escola Cidade do Rio Grande, não há atividade letiva em andamento no momento.
“A Smed emitiu uma orientação pedagógica às escolas para que os professores tomassem a iniciativa de se reaproximar dos estudantes e das famílias dos estudantes. Esse foi o nosso grande movimento e persistência com os colegas”, explica André Lemes, secretário de município da educação. Diferentemente do que decidiu a rede estadual e a privada, a municipal não irá aderir a práticas de ensino a distância ou ensino remoto enquanto durarem as medidas de resguardo social. “O nosso incentivo é para que cada direção de escola mantenha um contato permanente com sua equipe de professores e funcionários para alimentarmos esse sentimento de pertencimento, o sentimento de que mesmo em isolamento não estamos sós. Estamos juntos”, diz o secretário.
O posicionamento da Smed se justifica por quatro razões, de acordo com André Lemes: os professores não têm qualificação de formação para trabalhar com o instrumento de educação a distância; nem todos os docentes têm acesso às ferramentas tecnológicas necessárias para se fazer um trabalho pedagógico na modalidade a distância de qualidade; a rede tampouco tem as ferramentas necessárias para disponibilizar aos professores; e, por fim, parte considerável dos estudantes não têm acesso às tecnologias de computadores e celulares com potência suficiente para receber e manejar qualquer material nesse sentido. Dos 23 mil matriculados na rede pública municipal, 7 mil estão inscritos no cadastro do Bolsa Família, ou seja, são famílias de baixa renda, em situação de pobreza ou de extrema pobreza.
Conforme o direcionamento da Smed, no contexto do Centro, a escola aposta na página do Caic no Facebook para manter vivos o diálogo com a comunidade, o acolhimento, o incentivo e a valorização das vivências familiares. O grupo docente e diretivo alimenta a página com contação de histórias, brincadeiras, vídeos e mensagens de motivação.
A Smed deve lançar até o final desta semana um portal que irá reunir experiências escolares construídas no distanciamento social, como a da escola Cidade do Rio Grande, no Caic. O espaço virtual pretende dar visibilidade às iniciativas colaborativas que as comunidades vêm criando. O objetivo é “ressaltar e enaltecer o trabalho desses professores que de maneira autoral estão produzindo coisas maravilhosas e fantásticas para nossos alunos. Nenhuma dessas atividades será contabilizada como hora-aula ou dia letivo, nenhuma dessas atividades será contabilizada como conteúdo ministrado pelos professores. Nesse momento, não. É um método de aproximação ou reaproximação com as comunidades escolares”, destaca o secretário.
Preparando o retorno
Em 1º de abril, o Governo Federal suspendeu por Medida Provisória a obrigatoriedade de cumprimento do mínimo de 200 dias letivos previstos pela LDB por instituições de ensino, em 2020, por conta da Covid-19, mas manteve a exigência da carga horária mínima de 800 horas de atividades. Como lidar com essa realidade emergencial na educação básica e planejar o retorno à vida escolar?
A rede pública municipal lida com dois cenários: o primeiro diz respeito a superar o período de isolamento da pandemia, priorizando a saúde geral da população. O segundo, já com condições seguras de retomada da atividade letiva, estabelece o momento de construção da estratégia mais adequada para a rede com os interlocutores constituídos e legitimados para a deliberação de como deverá ser: as instituições pertencentes ao sistema municipal de ensino, que são todas as escolas públicas e privadas de educação infantil autorizadas pelo Conselho Municipal de Educação, o Conselho Municipal de Educação, a Smed e o Fórum Municipal de Educação, representado por cerca de 18 entidades e instituições vinculadas à área educacional, entre elas a FURG – órgão assessor da Smed para esses temas.
“Nosso foco é, a partir do momento em que tivermos condições de voltar, desencadear um debate com todo nosso grupo de trabalhadores em educação e as famílias para podermos construir a melhor alternativa de calendário escolar, que dê conta das aprendizagens das crianças, especialmente do tempo que estivemos em pausa, e que também dê conta das peculiaridades que esse novo momento vai impor para que a gente o enfrente. Não somos mais os mesmos durante a pandemia e não seremos mais os mesmos depois. Então o calendário escolar tem que ser esse lugar dinâmico”, considera André Lemes. E completa, “agora é passar por essa pandemia com saúde e com segurança e estarmos fortalecidos enquanto coletivo para, na sequência, fazermos a reposição de dias letivos, de espaços de aprendizagem para nossas crianças, para que a gente possa se reinventar nesse processo. Estamos tratando isso com muita seriedade e tranquilidade e como somos sistema próprio de ensino, vamos deliberar com os órgãos que compõem o nosso sistema”.
Aline Albernaz, professora e vice-diretora da Escola Cidade do Rio Grande, avalia o momento: “Impossível não olhar o calendário e pensar em qual dia estaremos de volta. O que grita dentro de cada um de nós é que somos escola e escola é movimento, é convivência. Passamos boa parte da docência querendo mais tempo e hoje é ele que nos açoita. Temos tempo, ideias, conhecimento e teoria e nada tem serventia, pois precisamos da escola”. Para ela, a pausa é oportunidade de reflexão e de reconhecimento de fragilidades e potencialidades do Caic.
Assessoria de Comunicação Social da FURG
Foto: Divulgação