Canto coral
Faz uns meses que mudei de casa. Vivo agora em um condomínio, com dez blocos e centenas de apartamentos. Dei sorte de pegar um andar só com pessoas bem maduras, em que o casal de menor idade somos nós.
Logo na primeira semana, comemorei a ausência de gemidos e narrações pornográficas. Eu não saberia como explicar isso para meus filhos. Não ainda. E não precisaria esperar o término de algum enlace romântico para dormir.
E não participo de canto coral, antes que a sugestão passe na cabeça.
Esses dias, poucos atrás, escrevia lá pelas dez da manhã, quando ouvi, em alto e bom som, um pedido daqueles. Por sorte, não era em meu andar, e só ouvidos mais atentos entendiam o que o Galvão Bueno do pornô estava dizendo. Só faltou “vai, menino Neymar!”.
Àquela altura da manhã, um vizinho de janela já estava acordado, com seu bebê, e os urros da torcida deveriam ser bem mais altos por lá.
Tentei mergulhar no texto, mas o papai tomou uma atitude inesperada e acabou com meu trabalho. A cada gemido, ele gritava junto, e o bebê o imitava. Ela fazia “ah!”, eles faziam “ah!”. Tudo imitavam. Na hora H, os três fizeram “aaaaahhhhhh!”. Parei tudo e fui verificar o grupo do condomínio no Whats App. Já era assunto. “Cês tão ouvindo isso” é o máximo que posso transcrever.
O apartamento do pai era só gargalhada. Bebê feliz, papai feliz, casal contente. Da próxima eu gravo para vocês ouvirem.
Autor: Rody Cáceres/Inspira
Foto: Pixabay