Celebrando a resistência e a existência negra, 49ª Feira do Livro da FURG é declarada aberta nesta quarta-feira, 17
Cerimônia contou com a participação de representantes de diversos coletivos locais, além de atividades culturais e literárias
Situada no coração do balneário Cassino, a praça Didio Duhá abrigará por mais um ano a tradicional Feira do Livro da FURG. Nesta 49ª edição, o evento repete os moldes da edição anterior, acontecendo no outono papareia ao invés do verão como costumeiramente era realizada antes do período pandêmico. Na noite de ontem, 17, diversas autoridades da universidade, representantes de movimentos sociais ligados à resistência e existência negra e o patrono Alisson Affonso reuniram-se na arena cultural para declarar a abertura oficial da feira.
Com o tema “Escritas, Presenças e Existências Negras”, a 49ª edição da Feira do Livro da FURG, que acontece até o dia 28 deste mês, assume o compromisso de visibilizar a cultura, o protagonismo e a presença dos povos negros por meio da literatura, do livro e das pessoas. Anualmente, a feira se coloca na posição de um evento multidisciplinar voltado para o debate de políticas públicas importantes para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária; esta edição teve a sua programação construída e pensada para maximizar as reflexões sobre o tema.
Ao todo, são 20 bancas de livros diversos, sessões de autógrafos, espetáculos musicais, teatrais e de dança, oficinas para públicos diversos, contação de histórias, exposições, concursos literários, entre outras atividades culturais.
Durante a abertura, compuseram a mesa de autoridades: o reitor e o vice-reitor da FURG, Danilo Giroldo e Renato Duro Dias; o prefeito da cidade do Rio Grande, Fábio Branco; representando a câmara municipal de vereadores, o vereador Sargento Rodrigues; o pró-reitor de extensão e cultura da FURG, Daniel Prado; o sócio administrador da empresa Augen Engenharia, Moisés Borges; o presidente do Conselho Municipal dos Povos de Terreiro, Luiz Otávio Borges; o presidente da Cooperarte, Jonas Fernando Martins Santos; a representante do Instituto Filhos de Aruanda, Vera Teresinha Oliveira; a vice-presidente do Instituto Mães Negras, Elizete da Rosa; a representante da Unegro Rio Grande, Eliane Menezes; representando o Rap Contra o Frio, André Dizero; representando o projeto Turbante-se, Gabriele Costa Pereira; representando o projeto Caminhos Negros, Alisson Justamant; e o babalorixá do Ilê Bará Jelú e Oya Dirã, Daniel do Bará.
De acordo com o reitor, o processo de tomada de decisão a respeito da realização, ou não, da Feira do Livro foi um processo complicado; no entanto, em razão do amor da equipe da universidade pelo evento, foi possível contornar os obstáculos e continuar promovendo este que é um dos eventos mais tradicionais da cidade do Rio Grande – e considerada a principal atração cultural e literária da região.
“Estávamos mergulhados em um cenário de muitas incertezas em 2022, mas, juntos, tomamos a decisão de fazer a Feira com a mesma qualidade e profundidade de sempre. E não há nada mais gratificante do que após todo este processo encontrarmos cada um e cada uma de vocês desfrutando deste espaço. Nós acreditamos no potencial transformador que este evento tem, e por isso, quero agradecer e saudar todos que me acompanham nesta abertura; aos patrocinadores que tornam viável este espaço; ao prefeito e à câmara municipal; e, sobretudo, aos representantes de cada coletivo e entidade que ajudaram a construir a 49ª edição da Feira do Livro”, destacou Giroldo durante a abertura.
Reflexões sobre o tema
Ainda durante sua fala durante a abertura oficial do evento, Giroldo destacou três importantes reflexões que gostaria de compartilhar com os presentes sobre a temática do evento e a consequente programação construída. “Longe de mim querer aqui esgotar as imensas reflexões que um evento como esse pode proporcionar, mas a arte e a literatura só fazem sentido se produzem reflexões, e pensando nisso, gostaria de apontar três reflexões que me parecem essenciais destacar neste momento: a primeira delas é sobre o reconhecimento e a reverência que cada um e cada uma precisa ter ao povo negro, a cultura e a arte negra. A programação foi construída e pensada para trazer visibilidade, uma vez que a gente só pode reverenciar aquilo que se conhece. Este é um espaço para mostrar e potencializar o alcance dessas obras tão ricas”, aponta e continua o reitor:
“A segunda é sobre a humildade que cada pessoa precisa ter para reconhecer tudo aquilo que aconteceu com o povo negro no Brasil e no mundo. A humildade de reconhecer que vivemos uma sociedade extremamente racista e é papel de cada um desarmar as armadilhas que estão colocadas no estado e na sociedade para que a gente possa efetivamente construir a representatividade para uma sociedade mais justa”, completa e conclui Giroldo:
“Por fim, a terceira reflexão é, sem dúvidas, que a gente possa aproveitar cada conquista; aproveitar e comemorar cada uma delas. Se a gente não reconhece os nossos avanços, não poderemos saber quando estivermos retrocedendo. Portanto, é importante desfrutar cada momento. Essa feira foi construída a partir da dedicação de muitas pessoas, e ela só faz sentido quando desfrutada a plena capacidade. Por isso digo, nós trabalharemos muito, até o último dia, mas também desfrutaremos muito de cada momento proporcionado aqui”.
Sobre o patrono
Alisson Affonso é natural e residente de Rio Grande; bacharel em artes visuais pela FURG, desenvolve pesquisas junto aos coletivos Cupins da Gravura e Mancha Negra. Também atua em oficinas de desenho no Instituto Cultural Filhos de Aruanda. Foi editor do Jornal Peixe Frito, Revista Ideia e Revista em Quadrinhos Plataforma HQ. Ilustrou diversos livros e atualmente produz quadrinhos e ilustrações para jornais e jornais sindicais. Seu trabalho já foi premiado em mais de 15 salões e concursos em diferentes locais do Brasil. Internacionalmente, já teve seu trabalho circulando em países como Itália, França e Croácia.
“Sinceramente, nesta mesma época no ano passado, eu imaginava que a Feira não iria acontecer, em função de tanto desmonte nas universidades públicas. Agora ela está aqui, acontecendo mais uma vez, e sobretudo trazendo este tema tão importante como sua bandeira este ano”, comentou Alisson.
Ainda durante sua fala, o patrono relembrou a importância do evento em sua vida. “Muitos anos atrás estava eu aqui, com alguns amigos, assistindo aos shows e espetáculos culturais. Eu sentava aí, nessas cadeiras, embora o palco fosse bem menor do que ele é hoje. Depois fui bolsista e oficineiro. Participei também de algumas identidades visuais do evento; e, por fim, lancei livros neste exato mesmo espaço”, recordou.
“Aqui vivemos um importante espaço, e, ao longo dos próximos 12 dias, eu tenho certeza que vamos amarrar muitas coisas, e, certamente, surgirão vários projetos que futuramente se tornarão coisas tão grandiosas quanto essa Feira. Eu gostaria de abraçar todo mundo se fosse possível, e destacar minha felicidade com essa homenagem”, emocionou-se o patrono, que concluiu: “ainda quero entender o que é ser patrono da Feira do Livro; talvez só vou saber isso no dia 28, ou quem sabe até depois, ao refletir sobre todas as coisas que ainda estão por acontecer aqui”.
Nesta quinta-feira, 18, acontece a “Noite do Patrono”, composta por duas atividades culturais que envolvem Alisson Affonso; sendo elas uma conversa sobre a vida e a obra do artista, mediado pela jornalista Julieta Amaral; e, em seguida, a apresentação musical “Nos Bares e Bailes da Vida”, contando com a participação do patrono na bateria, em conjunto com os músicos: Mauro sá, Leonardo rechia, Darlan Ortiz e participação especial de Josen Ribas e Sandro Mendes.
Secom FURG
Foto: Hiago Reisdoerfer/Secom FURG