Cores
Ana estava descobrindo o mundo mágico da imaginação. Aos olhos da menina, qualquer superfície lisa era uma tela em branco pronta para ser rabiscada. Essa regra também se aplicava às paredes da casa, para o terror de seus pais.
Animais, flores, casinhas… qualquer coisa que ela via se transformava num personagem desproporcional e colorido, como a visão da garotinha sobre o mundo em que há pouco tempo havia nascido.
Ana estava na pré-escola. Na hora do recreio, ela preferia desenhar as outras crianças, do que se juntar a elas. Foi numa dessas que uma professora muito velha a abordou.
Ana tinha desenhado duas colegas pulando corda, só que a professora não enxergou desse jeito. Para ela, eram só dois bonequinhos de cabelo comprido num fundo vermelho – a cor preferida de Ana.
– Ana, o que é isso?
– É o céu, tia.
– O céu não é assim. – Rebateu com firmeza. – Céu é azul. – Ela tirou o desenho das mãos da menina e lhe entregou outra folha branca. – Faz de novo. Eu te ajudo.
Ana teve que pintar o céu de azul, árvores verdes, sol amarelo… Quando perguntou timidamente onde podia colocar vermelho, a professora lhe mandou desenhar flores, e Ana o fez.
A professora lhe ensinou o lugar ideal das cores. Ensinou a ver o mundo da maneira certa.
Mas, para Ana, aquilo não importava. Após terminar o desenho, ela se sentiu triste por seu céu não poder ser vermelho. Então, a menina decidiu, simplesmente, não imagina-lo mais.
Autora: Ingrid Contreira – Inspira
Foto: Pixabay