Coreto da praça Tamandaré agora é Largo Carmen da Silva
“Quando soube que Carmen seria o nome deste Largo do Coreto, esse gesto me comoveu e fez pensar sobre o significado deste lugar que ela via da janela do seu quarto, no tempo em que morou na General Neto, 281, bem em frente à Praça Tamandaré, onde alimentava os marrecos, sua última visão antes de partir do Rio Grande, e para onde hoje volta com glória”.
A citação entre aspas é um trecho da manifestação feita pela professora Nubia Hanciau, durante a homenagem idealizada por ela e realizada pela Prefeitura, no final da tarde de quarta-feira (18), à escritora Carmen da Silva, que completaria 100 anos no próximo dia 31. Por decreto municipal, a partir dessa data, o Largo do Coreto na Praça Tamandaré, no centro da cidade, leva o nome da escritora. No local histórico e com a presença de diversas autoridades, muitas das quais mulheres, foi descerrada uma placa com a inscrição “A grande dama do feminismo brasileiro”.
O decreto que nomeia como Largo Carmen da Silva tem o número 16.808 e foi assinado pelo prefeito Alexandre Lindenmeyer, em 3 de dezembro desse ano. “Se esse momento ocorre, é fruto do trabalho da professora Nubia Hanciau, da universidade (Furg) que contribuem para que preservemos a memória de pessoas que fizeram e fazem a diferença na nossa cidade e no Brasil. Trazer o nome de Carmem da Silva para esse espaço, um local histórico e considerado como de luta e de defesa da democracia, é uma forma de preservar quem sempre defendeu os direitos das mulheres”, disse o prefeito.
Nubia Hanciau dedica-se, há anos, ao projeto “Carmen da Silva, uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro”, do Programa de pós-graduação em Letras da Furg, assim como ao site “Carmem da Silva, o repositório digital da obra da artista”. A professora falou que o descerramento da placa que a homenageia é um belo ato de memória, cujo atributo é garantir a continuidade do tempo. Para ela, “sabemos que a memória é um dos elementos essenciais da identidade, da percepção que temos de nós mesmos e dos outros; a memória é o mecanismo que nos leva a recuperar nossos nomes no tempo e a observar, com atenção generosa, o que cada um tem realizado em sua trajetória”.
A Carmenzinha do Dr. Pio
Carmen da Silva foi jornalista e escritora brasileira, uma das precursoras do feminismo no país. Em relato, a professora Nubia Hanciau contou um pouco da vida e obra de Carmen. Ela era “filha e neta dos conceituados médicos do município, Dr. Pio, pai e avô; nasceu em Rio Grande, em 31 de dezembro de 1919; e aqui residiu até os 25 anos. Viveu depois no Uruguai, mais tarde na Argentina, lá publicando Setiembre, seu primeiro romance (1957), premiado pela Sociedade Argentina de Escritores”.
Duas décadas mais tarde, conta Nubia, “em 1962, Carmen retornou ao Brasil, ao Rio de Janeiro, e lá consolidou seu talento como escritora e jornalista com a coluna da revista Claudia, A arte de ser mulher. Tornou-se a jornalista mais influente da imprensa feminina, contribuindo por mais de vinte anos para a formação do pensamento das mulheres brasileiras que séculos de educação restritiva, baseada em conceitos falsos, deixaram-lhes um pesado lastro de inibições, receios, hábitos de dependência e rotina mental. Sua inesperada morte ocorreu em abril de 1965, aos 64 anos, em Volta Redonda (RJ). Em sua ultima obra, a autobiografia Histórias híbridas de uma senhora de respeito (1984), a ‘Carmenzinha do Dr. Pio’ rememora espaços e acontecimentos ocorridos em Rio Grande, entre eles os eternos passeios dominicais em torno desta praça depois da missa”.
Leituras
Durante o ato que renomeou o Largo, a bibliotecária Simone Bobadilha foi uma das quatro mulheres que leram trechos da obra de Carmen Silva. Ela escolheu o prólogo do livro A arte de ser mulher, que diz: “Não é necessário muita perspicácia para perceber sintomas de insatisfação nas mulheres de hoje. Casadas e solteiras, ociosas e trabalhadoras, estudantes e profissionais, artistas e donas de casa, todas elas em algum momento deixam transparecer resquícios de frustração, um desejo hora nostálgico, ora invejoso, de outra existência diferente, outro caminho distinto ao que escolheram – como se a felicidade estivesse lá. Pareceria que lá – o lado oposto, o inatingível – se encontrasse tudo o que é belo e desejável, tudo o que nos proporcionaria um verdadeiro senso de realização”.
Largo, um símbolo da democracia
Entre as autoridades presentes ao ato na praça Tamandaré, estava Maria de Lourdes Lose, coordenadora municipal de Políticas Públicas para Mulheres. Ela comentou que “o espaço (agora Largo Carmen da Silva) é uma referência de luta, onde inúmeros atos ocorreram; é um sinônimo de resistência e de debates”. Para a coordenadora, esse é um dos trabalhos desenvolvidos pela Coordenadoria, ou seja, “dar visibilidade às mulheres do Rio Grande que, de alguma forma, viveram aqui e deixaram sua marca na luta e defesa dos direitos, não só das mulheres, mas dos direitos humanos”.
Outra mulher integrante da administração municipal, a secretária Darlene Pereira (Gabinete de Programas e Projetos Especiais) estava bastante feliz e comemorou a homenagem ao lado da primeira-dama, Eunice Lindenmeyer. Afirmou que “o nome de Carmen da Silva está, agora, num local de destaque, de movimento, no centro da cidade, um lugar de manifestações democráticas, uma referência no município, o Largo da praça Tamandaré”.
No final da cerimônia, o músico Fernando Neto, que é deficiente visual e, atualmente, desenvolve trabalho musical em carreira solo, se apresentou ao público presente.
Assessoria de Comunicação PMRG
Foto: Divulgação PMRG