Cotidiano
A banalidade do cotidiano se repete de diversas formas, em diversos períodos. Através da pessoa que acorda pela manhã, aos berros horrendos de um despertador vagabundo que comprara para substituir o anterior, que havia sido silenciado com uma junção de sua raiva e da parede do seu quarto. Veste seu roupão, aquece seu café, enquanto escuta seu marido reclamando e seus dois filhos brigando por algum motivo fútil. Ela talvez se atrasará para mais um dia de trabalho.
Ou alguém que queria estar almoçando com sua família, mas, infelizmente, está preso em algum prédio abandonado, tentando achar cobertura contra a chuva torrencial de balas das tropas inimigas. Não há como saber se aquela será a sua última missão, mas, com certeza, foi a derradeira para seu antigo amigo de regimento, que agora está escorado na parede com um rombo na cabeça. Ele sabe que é só mais um dia lutando pelo seu país, ou por ideais que não são seus.
Há ainda aquela que queria estar jantando com sua pessoa amada, mas ocorrera um acidente entre dois ônibus, e não paravam de chegar vítimas com as mais variadas fraturas e lacerações. Na sua mesa, naquele momento, estava um jovem que havia sido talhado da cintura quase até a pescoço, e ela iria fazer de tudo para salvá-lo. Mais um dia na emergência, e ela sabia que havia escolhido aquela vida.
E no fim, um mundo todo singular e feito justamente disso: banalidades cotidianas.
Autor: Carlos F. dos Santos/Inspira
Foto: Pixabay