Dentro da tumba
Era tudo preto. Era tudo escuro. Querido amigo, falta de luz não é escuridão; escuridão é escuridão. Só quem já viu, sabe; só quem é, entende.
Cheiro adocicado de estrago e de perda de esperança. Uma névoa altamente porosa, feita inteiramente de material particulado. De material quebrado, roto, destruído. Era isso: uma escuridão feita da mais simples destruição – só quem é, sabe. Era isso que ele cheirava de dentro da tumba.
Ele tenta sair, mas as unhas tiveram se soltado da carne na tentativa de raspar aquela superfície dura, intransponível. Bate na parede: oca; bate no peito: oco; bate em si pra ver se ainda existe: oco. Vazio por dentro e por fora. Era isso: uma escuridão destruída, feita do vazio – só quem é, sabe. Era assim que ele se sentia dentro da tumba.
Assim era a vida dentro dele. Dentro da tumba.
Autor: Eduardo Moll/Inspira
Foto: Pixabay