Inspira

Emily disse…

…“é triste ser anônimo, mas é chato ser popular”. Você fica como um sapo coachando em um lago, cercado por bancos de namorados. Acordei pensando em Emily e em seu vestido branco e em seu bouquet e em seu rostinho dormente de quem não queria saber. Precisava de uma coletânea de poesias para chamar de minha, me interiorizar até sumir um tanto e lavar a alma de dentro para fora. Caminhei pela casa tendo sede. Subiam versos pelas pernas e faziam cócegas na bunda, um tanto invasivos, que meu hétero até se recusou a deixá-los consumar o metro. Lasquei a mão entre as nádegas e catei um de doze sílabas. Quis encará-lo antes do desperdício, dar-lhe umas risadas, e assustei-me com as falanges distais em forma de bolinhas. O ar entrava em filetes, passando com dificuldade pela língua crescida. Saltei de medo e bati a cabeça no teto, improvável pulo de três metros, e quando aterrizei, estava em quatro patas. Preciso sair daqui, preciso de ajuda. Ia até a porta correndo, se pudesse, pois o impulso me jogou de cabeça e levei porta e marcos escada abaixo. Rolei um andar e parei de barriga para cima. Lá no alto, uma mosca estranhava o concreto, ignorava o monstro farfalhando as patas, esperava sem saber de sua espera. Outro impulso e a língua arremetida buscou o que a satisfizesse. Meus novos olhos enormes acompanharam a saída da mosca pela janela. Fiquei sem mosca, sem lago, sem namorados em bancos…

Autor: Rody Cáceres/Inspira

Foto: Pixabay

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