Felino
Passeio por aí sem muita pretensão.
Vejo um casal carnalmente insano, urrando e gemendo palavras que não podem ser entendidas, através de uma janela discreta no terceiro andar que dá uma certa ilusão de privacidade, mesmo que aberta. Noto também um assalto ocorrendo em um beco logo ao lado do mesmo prédio, onde duas pessoas tentam se dar bem: uma em não ter que comprar um celular novo com o dinheiro que não tem; a outra, em conseguir um celular usado para sustentar seus vícios puramente hominídeos.
Simpatizo mais com esta última, tenho meus vícios também, por mais que não pareça.
Sigo tranquilamente meu caminho na altitude, com um gingado todo meu, fazendo meus barulhos, procurando uma boa transa e brigando por aí. Aprecio esse grande parque de diversão construído por aqueles que se acham inteligentes demais, mas que não sabem nem da metade do potencial que uma cidade tem a oferecer, não importa seu tamanho.
Sou quase onipresente, mas sem ninguém notar, onisciente, sem nunca mostrar para ninguém o que eu sei, só não sou onipotente, mas quem precisa disso, quando só com as duas primeiras já fui, e continuo sendo, praticamente uma divindade para aqueles que tanto cismam em praticamente me venerar. E admito que concordo com tal comportamento. Ninguém pode me culpar disso.
No fim, só o simples me interessa, afinal, é como diz aquela música humana: podemos até ter nascido pobres, mas já nascemos livres.
Autor: Carlos F. dos Santos/Inspira
Foto: Pixabay