FURG participa de pesquisa internacional para potencializar aquacultura sustentável no Oceano Atlântico
Projeto Astral foi contemplado com cerca de 8 milhões de euros em edital da Comissão Europeia
Duas áreas com pesquisas de excelência na FURG – a aquacultura e a computação inteligente – somaram esforços para um projeto comum que agora coloca a universidade como uma das protagonistas em uma pesquisa internacional sobre o cultivo de animais aquáticos. O projeto Astral – All Atlantic Ocean Sustainable, Profitable and Resilient Aquaculture foi contemplado com 7,939 milhões de euros em um competitivo edital do projeto Horizon 2020, da Comissão Europeia, que teve 22 projetos selecionados de um total de 278 propostas inscritas.
O objetivo é desenvolver novas tecnologias para a aquacultura que a tornem, ao mesmo tempo, mais rentável e mais sustentável ao longo de todo o Oceano Atlântico. Liderado pelo centro de pesquisa norueguês Norce, o projeto tem a participação de 17 instituições espalhadas em diferentes países. São centros de pesquisa e empreendimentos de base tecnológica na Espanha, França, Inglaterra, África do Sul, Irlanda, Portugal, Nigéria e Argentina, além do Brasil, com a FURG.
Só para a FURG, o montante de recursos para a pesquisa será de cerca de 700 mil euros, a serem revertidos em bolsas para pesquisadores e investimento em laboratórios e insumos para a pesquisa. Os professores que lideram o projeto na universidade, Luis Poersch, da Estação Marinha de Aquacultura (EMA), e Marcelo Pias, do Centro de Ciências Computacionais (C3), preveem um “mini exército” de pesquisadores quando o projeto iniciar, ao final de 2020. “Há uma série de propostas de pesquisa que vão envolver estudantes de graduação e pós-graduação. Serão professores, pesquisadores e alunos trabalhando juntos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico que serão apresentados na Comissão Europeia”, prevê Pias.
“A FURG não está entrando como coadjuvante neste projeto, a universidade vai liderar muitos processos. Somos reconhecidos internacionalmente com a questão dos bioflocos e com a pesquisa em computação”, afirma o professor Luis Poersch.
Cultivo com bioflocos para uma produção sustentável
A aquacultura trata-se do cultivo de animais aquáticos para consumo humano. No projeto Astral, os pesquisadores observam, amparados pela FAO, que a aquacultura tem sido identificada como a fonte mais promissora de proteína animal ao redor do mundo, o que facilita compreender porque os investimentos no setor têm crescido anualmente.
Na FURG, desde o início dos anos 2000, pesquisas da EMA com o cultivo de camarões apontam para o benefício do uso de bioflocos na alimentação destes crustáceos. O sistema de bioflocos desenvolvido na universidade – que se tornou referência internacional – consiste no estímulo à formação de microrganismos na água que transformam compostos nitrogenados em alimento. Assim, o que antes era tóxico passa a servir de complemento à alimentação, reduzindo a quantia de ração necessária ao cultivo, e ainda melhora a qualidade da água. Esse processo é feito com a adição de fontes de carbono no sistema de cultivo, a exemplo de melaço, farelo, entre outros. A água não gera efluentes, pois é reutilizada a cada ciclo de produção. Para o professor Wilson Wasielesky, também da EMA, a produção com o sistema de bioflocos torna o processo “mais sustentável e mais seguro do ponto de vista biológico”.
Essa experiência com bioflocos será adotada no projeto Astral, porém com a integração de outras espécies de organismos, em sistemas multitróficos. O princípio desse modo de produção é que as espécies atuam em diferentes níveis tróficos e há um aproveitamento maior dos alimentos (o que uma espécie não consome, é utilizado na alimentação de outra), além da diversificação de produtos para a comercialização.
Nos tanques e estufas da EMA, na FURG, os camarões marinhos estarão integrados a peixes, algas e moluscos em tanques interligados e instalados no continente. Outros países, como Irlanda, Escócia e Argentina, utilizarão outras espécies integradas nos sistemas multitróficos, de acordo com as características locais, mas em tanques-redes instalados em mar aberto. Haverá cultivo também na África do Sul, em sistema de tanques fechados.
Tecnologias para a inovação no cultivo e nas relações socioambientais
Para melhorar o controle do cultivo, entra em cena a computação. Serão desenvolvidos biosensores, novos sensores de visão computacional e Inteligência Artificial, interconectados pela Internet das Coisas. Com isso, os pesquisadores buscam melhorar o controle de qualidade da água, monitorar e reduzir a presença de substâncias tóxicas, facilitar o manejo e reduzir o custo da produção. Um pacote de produtos tecnológicos será desenvolvido para o projeto, mas ele deve beneficiar não apenas a aquacultura como atividade isolada: ao desenvolver essas tecnologias, os pesquisadores miram também no monitoramento de problemas que são recorrentes no oceano, como os microplásticos, de difícil detecção.
A FURG é a instituição que vai liderar o braço do projeto específico para a produção de inovação tecnológica. Ao final do projeto, serão apresentados novos sensores baseados em I.A. para a qualidade da água, para a identificação de microplásticos, protótipos de sensores de visão computacional com inteligência artificial, além de uma plataforma de análise de dados, entre outros produtos.
“A gente tem condições, com este projeto, de melhorar muito a produção, além de capacitar para a produção sustentável, com certificação, com um grande impacto social”, avalia Pias. Ao projetar o futuro, afirma: “Podermos desenvolver essas tecnologias e elas chegarem aos nossos produtores será a nossa grande recompensa”. Outra vantagem apontada pelo professor é o repasse de tecnologias e, nesse caso, do eixo Sul para o Norte: “vamos repassar nossa tecnologia para outros países”.
Retorno da pesquisa para a comunidade
Toda a produção de tecnologias no âmbito do projeto leva em conta os riscos climáticos para o Atlântico Norte e Atlântico Sul, além de questões sociais. Por isso, o projeto também vai desenvolver um plano de desenvolvimento de capital humano, sensível às questões de gênero. E busca estar próximo da comunidade para que o conhecimento desenvolvido na pesquisa possa estar o mais próximo possível do uso da comunidade.
Alguns empreendimentos de base tecnológica já fazem parte do consórcio de pesquisadores, para que essa transição entre a tecnologia desenvolvida na pesquisa e sua aplicação seja acelerada. Mas em âmbito local, isso também deve ocorrer. Na FURG, um espaço importante para a pesquisa será o Centro de Inovação iTEC, ainda em fase de finalização, junto ao Parque Científico e Tecnológico da instituição, o Oceantec, o que deve facilitar o diálogo entre a pesquisa e empresas e startups para que as tecnologias estejam a serviço da sociedade.
O projeto Astral conta com uma equipe multidisciplinar e multiunidades. Participam do projeto os professores da EMA Luis Poersch e Wilson Wasielesky, do Centro de Ciências Computacionais (C3), os docentes Marcelo Pias, Vinicius Menezes de Oliveira, Silvia Botelho, Paulo Drews-Jr e Nelson Duarte Filho e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) a professora Cristiana Lima Dora.
Assessoria de Comunicação Social da FURG
Foto: Hiago Reisdoerfer/Secom FURG