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FURG se despede de Aimée Bolaños durante ato fúnebre realizado no Cidec-sul

Colegas, amigos e alunos dedicaram poesias e recordaram momentos ao lado da professora

Na manhã desta quarta-feira, 26, a asa norte do Cidec-sul, em frente ao Núcleo de Memória Eng. Francisco Martins Bastos (Nume), recebeu amigos, colegas e alunos de Aimée Bolanõs para um ato fúnebre em memória da docente. Na ocasião, diversas autoridades da Universidade também prestaram suas homenagens e dedicaram leituras de trechos das obras da professora Bolaños, que faleceu no último domingo, 23, vítima de um atropelamento no balneário Cassino, envolvendo um motorista alcoolizado.

Ensaísta, poeta, ficcionista e professora universitária, Aimée Bolaños era natural da cidade de Cienfuegos, em Cuba, tendo chegado ao Brasil no ano de 1997, como uma das primeiras professoras do curso de graduação em Letras-Espanhol, do Instituto de Letras e Artes (ILA). A docente estava aposentada, embora ainda muito ativa em círculos artísticos como o coletivo Mulherio das Letras e dentro da própria Universidade, onde ainda ministrava disciplinas junto ao Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL).

Em sua fala, a reitora Suzane Gonçalves destacou o compromisso de manter a memória, a história e a produção da professora Aimée viva e pulsante. “Devemos honrar o seu legado, ao mesmo tempo em que devemos, também, cobrar justiça, pois a perdemos vítima de um crime, e isso não podemos esquecer”, destacou a gestora.

Nas redes, o ex-reitor da FURG e atual assessor especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Danilo Giroldo, também prestou as suas homenagens a Aimée. “Não deu tempo de te dar um último abraço[…]Eu devo tanto a essa mulher, talvez uma das pessoas mais inteligentes que eu já tenha conhecido e uma das vidas mais incríveis que eu já tenha testemunhado, terminada de uma forma tão brutal. Aimée vai sempre continuar entre a gente, mas é uma perda tão grande pro mundo”, escreveu o professor.

Algumas homenagens

O servidor aposentado e comentarista do programa FM Café, da rádio FURG FM, Eduardo Carvalho Pereira, recordou sobre o trabalho desenvolvido pela professora quando ainda muito jovem, em Cuba, alfabetizando crianças em situação de vulnerabilidade socioeconômica. “Sua vocação e paixão pela docência se manifestaram desde muito cedo. Ela era uma pessoa muito inteligente, e que poderia desenvolver sua vida e sua carreira em qualquer lugar do mundo; falava diversas línguas e era reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho. Mas era no Cassino que se sentia à vontade. Ela escolheu esse lugar para construir o seu caminho, e se dedicou intensamente à cidade e à Universidade”, emocionado, discursou.

O autor – e patrono da 48ª Feira do Livro da FURG – Sérgio Carvalho Pereira, durante sua manifestação, fez a leitura de um trabalho organizado pela professora Aimée que remonta à época da pandemia de Covid-19. “Naquele momento em que estávamos em casa, isolados, sem produzir, Aimée fez contato com diversos poetas, muitos dos quais estão aqui neste momento, e, a partir disso, nos instigou a escrever. Essa era a força de Aimée, uma professora que transformou e tocou vidas”, destacou.

O poema em questão se chama “Naufrágio”, e é tido entre as pessoas próximas de Aimée como uma de suas obras mais queridas. O título evoca sua proximidade com a praia do Cassino e um pouco do pertencimento que sentia com o território.

Naufrágio

“Sobrevivi à tormenta

aferrada à tábua do desejo.

Recolhi os míseros fragmentos

e armei minha balsa de Medusa.

Naveguei o tempo em solidão.

Nenhum porto me deu abrigo

até descobrir uma praia

de escuras águas iintermináveis.

De novo salvei pedaços

e no espaço do ar

fiz minha casa impossível

tão semelhante ao nada.

A viagem me transformou.

Tenho mil rostos reais

tão alegres como tristes

uma frágil alma persistente

duas línguas e um corpo sábio

que resiste aos naufrágios.”

(de labirintos e espirais – sete poetas de Rio Grande, Editora Patuá). BOLAÑOS, Aimée, 2021, pág. 85.

A professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Carla Amorim também prestou sua homenagem. “Todos nós que amamos Aimée; todos que escrevemos e gostamos de escrever, devemos honrar o seu legado e guardar com carinho a sua memória, para que as próximas gerações reconheçam a grandeza do seu trabalho. Eu própria sou pequena perto de tudo o que ela fez, mas nunca me senti pequena diante dela, tamanha sua generosidade”, compartilhou a docente.

A analista de mídias sociais da Secretaria de Comunicação (Secom) – e integrante do coletivo Mulherio das Letras – Juliana Blasina reforçou a fala dos demais, em contribuir para a salvaguarda da memória e do legado de Aimée. “Cabe a nós enquanto Mulherio das Letras, amigos e colegas, perpetuar a mensagem dela de acolhimento, de amor. Neste momento difícil, dois de seus versos me iluminaram, os quais compartilho com vocês: “digo amor, e amor me toca”.

O professor do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e doutorando em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Giliard Ávila Barbosa, declamou um poema de autoria da professora, e, em seguida, fez a leitura de um texto em que expressa seus sentimentos de perda e saudade.

“Queria poder te dizer agora palavras bonitas de amor, mas sinto revolta e infinita tristeza. Queria poder uma vez mais poder te dar um abraço apertado, queria te ler e te ouvir dizendo belezas, dizer outra vez que te amo muito”, escreveu em um trecho Giliard.

O diretor do ILA, Marcelo Gobatto, destacou a importância da professora para a Universidade, não apenas na figura de uma docente envolvida com as atividades de ensino, pesquisa e extensão, mas como uma grande amiga de todos. “Precisamos honrar o seu trabalho. O Instituto não esquecerá de Aimée, assim como ela nunca esqueceu da FURG”, concluiu o professor.

Secom FURG

Foto: Fernando Halal/Secom FURG

 

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