Grupo de estudos da FURG monitora qualidade da água das praias e arroios de São Lourenço do Sul
Ação multicampi constatou elevados índices de nitrogênio e fósforo, responsáveis pela proliferação de algas e cianobactérias
A partir de esforços em conjunto de pesquisadores dos campi São Lourenço do Sul e Carreiros, a FURG realizou o monitoramento de elementos químicos na água dos arroios e das praias lourencianas durante o verão.
O grupo de estudos contou com a participação dos docentes Eduardo Antunes Dias e Karina Kammer Attisano, da FURG São Lourenço do Sul; e João Sarkys Yunes, Margareth da Silva Copertino e Cleber Palma Silva, da FURG Rio Grande. Estudantes dos cursos de Gestão Ambiental e Educação do Campo também envolveram-se na ação.
A partir de coletas de água realizadas nos meses de dezembro de 2022 e janeiro de 2023 em pontos estratégicos das praias da orla e dos dois arroios da cidade de São Lourenço do Sul, o projeto piloto constatou os índices elevados de nitrogênio (N) e fósforo (P) nas águas do município.
Em excesso, estes nutrientes estão ligados a dois fenômenos que têm sido recorrentes em São Lourenço do Sul: a proliferação de macroalgas filamentosas e de cianobactérias nas águas. Ambos ocorrem principalmente na temporada de verão, período com maior incidência solar e de calor.
Apesar de causarem mau cheiro em virtude da decomposição, as macroalgas não geram riscos diretos à saúde dos banhistas. Já as cianobactérias têm potencial de produzir toxinas que ao contato ou quando ingeridas, podem trazer danos à saúde humana, atingindo principalmente a pele e os sistemas hepático e neural.
O professor Eduardo explica que a situação está ligada ao processo de eutrofização das águas, ocasionada pela chegada de matéria orgânica enriquecida com nitrogênio e fósforo, principalmente a partir de ligações de esgoto irregulares (fósforo) ou do despejo do excesso de fertilizantes (nitrogênio) de algumas lavouras da região. “Não podemos relativizar a questão. Sabemos que já apareceram cianobactérias e algas por aqui em outros anos, mas a quantidade e a frequência está aumentando. Estão aparecendo cada vez mais, e em maior quantidade, porque estamos jogando mais matéria orgânica, nitrogênio e fósforo na água”, afirma.
Neste sentido, destaca a necessidade de fiscalização do poder público e de conscientização da população. “É necessário realizar o tratamento do esgoto e com técnica adequada para retirar o nitrogênio e o fósforo que vão parar na água, além de combater as ligações clandestinas de esgoto na rede pluvial. Por isso precisamos ampliar o saneamento básico das cidades. Também temos que ter cuidado com o manejo na agricultura. Será que não estamos utilizando fertilizantes sintéticos em demasia sem realizarmos uma avaliação mais precisa quanto a sua real necessidade?”.
Para alterar este cenário, Eduardo sugere o término das obras da estação de tratamento de esgoto municipal; a adoção de técnicas como a ciclagem de nutrientes na agricultura, com o uso de adubo orgânico que pode ser produzido a partir da compostagem das próprias algas filamentosas; bem como o respeito dos produtores à legislação vigente, que regula o tempo de espera para o’descarte da água de irrigação, e a existência de canais de drenagem que garantam que esta não seja despejada diretamente na Laguna dos Patos.
O docente também reforça o papel que tem sido exercido pela universidade ao pautar discussões sérias e importantes socialmente, como a saúde pública, trazendo reflexões com informações técnicas e científicas. “O tripé da universidade é o ensino, a pesquisa e a extensão, então nós estamos contribuindo para o desenvolvimento de São Lourenço do Sul com ações de ensino quando tentamos mostrar para a comunidade e para o poder público as causas destes fenômenos e quais seriam as medidas preventivas que deveriam ser tomadas para evitarmos a sua intensificação; na parte da pesquisa, com a investigação direta a campo para identificarmos os elementos que promovem esses fenômenos, e também na forma de extensão, quando vamos até uma rádio para explicarmos essas informações para a comunidade”, ressalta.
Interação multicampi
Ao todo, quatro laboratórios da FURG estiveram envolvidos com a coleta e a análise das amostras de água, sendo que os de Cianobactéria e Ficotoxinas, Ecologia de Macroalgas e Limnologia ficam situados no campus Carreiros e o de Química Analítica Ambiental, em São Lourenço do Sul.
Eduardo acredita que a interação multicampi é essencial para os campi que estão iniciando suas atividades e consolidando seus laboratórios. “Nós ainda não temos uma infraestrutura adequada para procedermos com pesquisas mais complexas. Por enquanto só temos laboratórios de ensino em São Lourenço do Sul, portanto essa parceria com o campus Carreiros e seus laboratórios é essencial para que consigamos realizar pesquisas mais avançadas por aqui”.
O professor relata que após este projeto piloto, a ideia da equipe é analisar os dados obtidos, para então definir os próximos passos da iniciativa, que segundo ele, provavelmente contarão com o monitoramento mais frequente da qualidade da água dos arroios e das praias lourencianas ao longo do ano.
Secom FURG
Foto: Divulgação