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Ilhas sem transporte, sem saúde, sem despedida aos falecidos, a realidade das famílias durante as cheias em Rio Grande

Enlutadas, as famílias da Ilha da Torotama em Rio Grande, que antes, conseguiam enterrar seus entes na localidade, agora, devido às cheias da Lagoa dos Patos, precisam recorrer ao cemitério em Rio Grande. Além da dor da perda, a comunidade toda precisa enfrentar outro problema: a falta de transporte público na região e como consequência, a incerteza de saber se conseguirão se despedir em velório, enterro e posteriormente retornar para as suas casas nas Ilhas. Um momento de sofrimento que se soma ao transtorno e toda a dificuldade vivenciada pelas famílias.

A circunstância foi vivida por quem perdeu seus entes queridos e enfrentou dificuldades para o deslocamento de despedida e de volta para suas residências nas Ilhas.

“Antes de ontem faleceu uma mulher e hoje faleceu outra. Os parentes não conseguem ir para os velórios. Ontem, com uma grande luta, as famílias conseguiram transporte para levar a família e hoje também, com grande luta, trouxeram. Mas a que morreu hoje, já não estão conseguindo que levem e que tragam as pessoas. A água baixou um pouco. Eles disseram que tinha melhorado um pouco a estrada, mas a gente não tem o mínimo, que é o ônibus da Transpessoal que entrasse aqui e fizesse o transporte das pessoas. Então, a gente continua vivendo essa situação muito crítica. As pessoas morrem e não podem ser enterradas no lugar delas e eles não colocam nenhum transporte para levar as famílias. É muita humilhação.” desabafou uma moradora.

A falta de transporte coletivo na localidade se estende por mais de 20 dias e ainda sem respostas de quando retornará. No entanto, durante alguns dias, a Prefeitura disponibilizou o ônibus da Secretaria de Município da Educação (SMEd) que fazia o trajeto uma vez ao dia, durante a manhã até o centro da cidade e retornava no final da tarde. Porém, essa modalidade de transporte foi suspensa.

Os moradores foram avisados da nova medida através da Secretaria Municipal de Mobilidade, Acessibilidade e Segurança. A partir de segunda-feira, 09, em mensagem, enviada a um grupo de moradores, é informado que será feito o transporte de 60 pessoas por dia, às 8h15, no ônibus da SMEd, somente até a Vila da Quinta. E de lá, cada morador que precisar, utiliza o transporte público para onde precisa. No retorno, o ônibus da SMEd, estará na estação da Vila da Quinta, às 18h, para quem for para a Ilha.

A mensagem informa: “Não iremos trazer mais até o centro ou sair do centro. Devem usar a linha quinta normal e esperar a viatura na integração quinta, para lista de passageiros. Limite é 60 e prioridade quem VEIO de manhã. Preferência conferir o pessoal de sexta pra ver se não estão usando indevidamente. Só podem embarcar desde que não extrapole o limite que o motorista disser.”

A mensagem foi espalhada nos grupos de WhatsApp, encaminhada pelos próprios moradores, como têm sido feito há algum tempo, para enviar os recados a comunidade que tem acesso a internet.

Para tentar um lugar no ônibus que sai da Ilha da Torotama até a Vila da Quinta, os moradores precisam enviar os nomes a uma lista.

Leia a mensagem na íntegra:

“Não iremos trazer mais até o centro ou sair do centro. Devem usar a linha quinta normal e esperar a viatura na integração quinta, para lista de passageiros. Limite é 60 e prioridade quem VEIO de manhã. Preferência conferir o pessoal de sexta pra ver se não estão usando indevidamente. Só podem embarcar desde que não extrapole o limite que o motorista disser.

Segunda 0815hs saindo da Integração quinta pra Torotama e as 0915hs da Torotama até estação quinta. A tarde saída às 1800hs da estação quinta até Torotama. E da Torotama até estação quinta se tiver alguma carona perdida.

Contamos com a colaboração da comunidade. Embarque e desembarque na Igreja.”

Uma moradora relata como sentem-se humilhados para requerer o mínimo.

“Não é só cesta básica. A gente precisa do mínimo para estar sobrevivendo aqui dentro. Com água nos pátios dia e noite. Muita gente ainda com água dentro de casa. É desumano. Tudo tem que estar brigando, tem que estar se incomodando. O secretário da pesca e da agricultura não coloca os pés aqui. A gente nunca viu. Essa é a realidade. Hoje mesmo, vários carros baixos passaram na estrada e como que não conseguem passar o ônibus e carros deles?”

A moradora ainda explicou que tentaram ser compreensivos:

“Nós já esperamos muito. Mas a gente está aguentando tudo o que dá. Chega um ponto que temos que ter o acesso ao mínimo, e esse mínimo a gente não está tendo. O ônibus mesmo, não deve demorar a ter briga dentro da comunidade, porque umas pessoas conseguem ir, outras não. Aí se tu vai na sexta, tu não pode ir na segunda. Mesmo que tenha um compromisso seríssimo, tu não podes. É muito ruim. A gente vê o pessoal cada vez mais distante do interior e não é só aqui. Tirando horários dos ônibus. Já vinha se perdendo muita coisa antes da enchente. Agora com a enchente, só redobrou o que estamos passando”, lamentou.

Em relação ao transporte, a moradora explica:

“Antes tínhamos vários horários de transporte para as Ilhas, depois, foram tirando, e estavam apenas três horários. Agora, não temos nenhum.”

Saúde

A preocupação com a saúde se mantém, já que o posto de saúde não está funcionando. Mesmo sem as cheias, quando o posto funcionava, sexta-feira nunca tinha médico. Agora, não temos nenhum atendimento. Aos finais de semana nunca tivemos “, disse a moradora.

Jornalista Thuanny Cappellari/RIO GRANDE TEM

Foto: Divulgação

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