Lutador
Eu cuspo sangue no chão. Aquele gosto ferroso e um misto de raiva e medo instintivo tomam meu corpo. É uma disputa desleal, mas no fim, a raiva ganha. Sigo em frente, disparo chutes, minha principal arma técnica contra um oponente mais rápido, mais sagaz e afiado do que eu. Sinto como se fosse uma criança nas mãos de algum tipo de valentão da escola que simplesmente ignora meus movimentos e me trata como um pedaço de pano fraco. Outro soco, não esquivo a tempo, minha visão fica embaçada.
Um flashback vem a mim antes de um inevitável nocaute: as risadas, a humilhação e a dor de alguém que fora colocado contra um oponente justamente para ser isso, um saco de pancada, servindo de diversão visual para um bando de insanos. Mas eles não contavam com algo: minha raiva, meu medo e, acima de tudo, minha fúria. Tudo volta, e apenas vejo meu oponente. Lembro de tudo que sofri para chegar aqui e de tudo que aprendi e de, como me ensinaram há muito tempo atrás: a vida não é justa, ela é, na verdade, aquele amor que nos mata aos poucos, mas que por algum motivo, nos instiga a lutar, lutar e lutar, pois nos recusamos a perder o que mais amamos.
Tenho pena do meu oponente, pois ele está no meu caminho, e eu não caí, pois o nocaute não veio e me mantenho firme e furioso.
Eles querem me dar o inferno? Então darei o inferno a eles.
Autor: Carlos F. dos Santos/Inspira
Foto: Pixabay