Mapa para o Futuro
O despertador de Jeferson o arrancou de um sonho quente com Martina. Em negação, pegou o celular – que já lhe informava a temperatura e a iminência de chuva até o fim do dia – e começou a rolar a tela do Facebook para tentar reunir alguma motivação para sair da cama. A mesma coisa de sempre: política, memes e casos de violência na cidade e região com comentários radicais. Abriu o Instagram, visitou alguns stories, deu algumas risadas e se atrasou para o trabalho.
As calçadas ficaram atordoadas com a frequência com que eram pisoteadas por Jeferson. Num cruzamento em particular, um jovem, também negro, fazia malabarismo com maestria. Ele nunca vira nada parecido e lhe estendeu algumas moedas. Com um sorriso gentil, o malabarista agradeceu e lhe entregou um papel resistente dobrado dizendo “Mapa para o futuro”.
– Proteja-o, se não, nada acontece. – O malabarista disse. Jeferson concordou, mas não prestou atenção, agradeceu e seguiu rumo ao trabalho. (Algumas pessoas desviaram, sem entender porque alguém para no meio do caminho e joga moedas no chão enquanto fala sozinho).
No tédio do intervalo, abriu o mapa e leu um futuro brilhante com Martina, lhe garantindo que só haveria sorte dali em diante.
Contudo, começou a chover, como previsto, e a bateria do celular acabou. “Sorte”, ironizou e transformou o mapa no guarda-chuva que esquecera na pressa ao sair de casa.
– Perdeu, negão! – Gritou um bandido saído de um beco e atirou quando viu que na carteira tinha apenas dois reais.
Autor: Pedro Porciúncula – Inspira
Foto: Pixabay