Musa
Com certeza, a melhor parte de trabalhar em um escritório é ,justamente, a pausa para o café, ainda mais quando você está no vigésimo andar e tem vista para praticamente a cidade inteira.
A pior parte é ela.
Ela é a musa do escritório. Musa? Não, ela não é isso. Querem me dizer que um sorriso perfeito, reluzente e com dentes lindamente alinhados a faz uma musa? Ou aqueles cabelos loiros, geometricamente ondulados, com uma perfeição que beira o divino? Ou ainda aquele corpo com curvas que hipnotizam qualquer um ao passo em que são tão graciosamente felinos? Com certeza, isso não fazem dela uma musa, pois, com certeza, ela não é nenhuma musa.
Ah, e eu ainda nem falei da voz dela, que parece de anjo, claro, se é que eles falam de uma maneira tão irritantemente agradável aos ouvidos, ou ainda o quão inteligente e sagaz ela é, sempre com as melhores ideias, ou ainda buscando e apresentando as melhores soluções, ou fazendo as piadas mais inteligentes, ou ainda sendo chata de tão solícita, simpática e carismática.
Não, ela não é nenhuma musa, ela é apenas uma exibida, que fica ululando sua perfeição pela firma, querendo ser admirada e amada. Uma verdadeira presunçosa, se me permitem dizer.
Quando saio um pouco dos meus pensamentos, noto que justamente aquela “musa” está na copa comigo, fazendo um chá enquanto cantarola. Ela percebe minha presença e sorri para mim, como se só aquilo importasse.
Droga, acho que estou apaixonado.
Autor: Carlos F. dos Santos/Inspira
Foto: Pixabay