O meu frio de exilado
andava no meio do campus e fazia frio. minha mão segurando o café recém comprado e fumegante; minha mão segurando meu pescoço e minha sanguinolência reprimida; minha mão tremendo um pouco. minhas pernas e meu caminho até o auditório: aula inaugural.
eu não esperava ser aceito no programa de doutorado, muito menos ter meu período fora para realizar minha pesquisa. eu não esperava ir ao país da língua que eu estudava. eu não esperava sair do meu país com um país a menos dentro de mim. eu não esperava ter sido exilado dele. o exílio forçado dói, ainda mais se somos nós quem o procuramos.
chegar aqui doeu. mas aqui eu cheguei, sem ele, meu país. meu caminho até o auditório é de negação: esse não é o meu, mas outro; meu não será, nunca. exilado. dou meu jeito de abrir a porta pesada do auditório e de me encaminhar à última cadeira da última fila. os pés estão encharcados e o café esfriou. anoto o título da palestra e sumo dentro de mim. exilado.
onde que tu foste parar? e eu, que estou órfão? e esse frio interno que abraça o externo e me sufoca e eu te mandei mensagens e eu te pedi pra ficar e eu te acompanhei e eu te amei tanto mas tanto e tu e onde estão os aplausos e…
aplaudo o palestrante e vou embora. meu frio não merece nenhum tipo de reconhecimento que não o meu. exilado.
Autor: Eduardo Moll – Inspira
Foto: Pixabay