Obsessão
Ela o amava demais.
Adorava seu sorriso, o forma com que ele a tocava e se importava com as coisas dela. Seu beijo era incrível. Talvez, ela não o amasse demais, mas sim, imensamente.
Mas ela não sabia o que fazer, pois também tinha um medo patológico de perdê-lo. Com certeza, ela não era a única que achava ele incrível, singular, um espécime entre todos os espécimes.
Seu amor talvez não fosse somente imenso, poderia ser visto como colossal. E ela não aguentava a ideia de afastar-se do homem da sua vida, ficava paranoica: se ele não a respondia por mais de cinco minutos, ela já julgava que estava sendo deixada de lado e substituída por alguém muito melhor. Ela não se sentia suficiente, à altura daquela pessoa que somente perdia, em perfeição, para um Deus.
Seu amor acabar de se tornar obsessivo e ela havia descoberto a solução para todas as suas inseguranças: o convidou para mais um de seus vários jantares a dois.
E, agora, ele está a ali, com o rosto afundado no prato principal, morto. Agora, ele está ali, a total disposição dela, somente para ela e mais ninguém. Impressionante como alguns venenos não tem gosto.
Mas não era insuficiente; a posse do corpo e da vida do seu amado não era insuficiente. Ela queria ser uma só com ele, em um nível mais e mais puro.
No fim, quem diria: o canibalismo poderia ser uma forma de amor.
Autor: Carlos F. dos Santos/Inspira
Foto: Pixabay