Painel na Semana do Patrimônio destacou a importância da obra de revitalização do Porto Histórico e dos achados arqueológicos para o fortalecimento da identidade rio-grandina
O arqueólogo da Archaeos Consultoria em Arqueologia, Luiz Alberto Silveira da Rosa, realizou na última sexta-feira (18), no auditório do prédio da Alfândega, um painel com destaques sobre a importância da obra de revitalização do Porto Histórico, que está sendo promovida pelo governo estadual gaúcho com contrapartida da Prefeitura do Rio Grande. De acordo com o profissional, tanto a revitalização e restauração do local quanto os mais de 3 mil itens arqueológicos encontrados carregam consigo o potencial de proporcionar aos rio-grandinos o reencontro com a sua identidade.
Silveira deu início à exposição remontando à história da própria fundação da cidade, que não nasce, inicialmente, como um porto, mas sim como uma praça forte voltada à defesa interna do território, cuja utilidade era a de prestar auxílio à então Colônia de Sacramento do império português, servindo como ponto de contrabando da prata (e outras mercadorias) vindas da região espanhola andina. Isso condicionou a Rio Grande daquele século XVIII características específicas de uma distribuição urbanística sobre como a cidade foi assentada.
“Era uma cidade que ficava de costas para as águas. As casas, as janelas, elas ficavam de costas para o continente, porque da água naquele momento só viriam eventuais reforços. Apenas depois da entrega definitiva da Colônia de Sacramento às mãos espanholas é que Rio Grande passa progressivamente a concentrar o contrabando regional da época, e mais tarde a servir também como um ponto de escoamento da produção da província de São Pedro”, detalhou o arqueólogo.
É a partir desse período então que a cidade é aberta definitivamente como Porto Comercial, e passa a ter que atender uma diversidade de demandas que não só a de uma praça forte. Essas novas demandas (entre as quais a construção do Cais em 1870) vieram acompanhadas, por seu turno, de novas mudanças no assentamento urbanístico da cidade, que passa agora a se constituir de frente para suas águas.
Rio Grande adere ao fenômeno/conceito de “mundo atlântico”, uma unidade de compreensão territorial marítima na qual as cidades costeiras do final do século XIX e início do século XX passam a ter uma conexão muito maior com outras cidades espalhadas pela costa do oceano Atlântico, do que com as cidades com as quais é ligada por terra. A alta demanda de entradas e saídas de embarcações daqui passam a exigir de Rio Grande, também, sua apresentação para quem chega de uma cidade moderna, um espetáculo, digno de ser retratada em cartões-postais, como de fato foi.
Identidade rio-grandina e achados arqueológicos do Cais
Além de toda a documentação histórica desse período, outras informações sobre essa passagem do tempo podem ser contadas através dos achados arqueológicos feitos durante as obras de revitalização em curso do Cais. Ao longo da sua existência o local passou pro diversas reformas na melhoria da estrutura e na ampliação para atender o aumento da demanda por movimento de cargas. Durante os séculos XIX e XX, o Cais recebeu alguns nomes populares: Cais de Cantaria, Cais da Boa Vista, Cais da Alfândega e Cais do Porto Velho.
As descobertas arqueológicas recentemente feitas pela equipe da Archaeos, que acompanha os trabalhos de infraestrutura no local, referem-se à época em que o espaço era conhecido como “Cais de Pedra” – construído entre os anos 1870 e 1872. Durante as intervenções no subsolo foram encontrados milhares de itens que vão desde louças, garrafas de vidros à inusitada pegada de um pé descalço, entanque no tempo. “A arqueologia é um veículo para histórias não contadas. A história formal, a história das grandes figuras envolvidas na construção do Cais já está contada. Entretanto, existiram inúmeras outras pessoas envolvidas nela que foram esquecidas nesse processo. São histórias que podem ser contadas através dos vestígios materiais que ficaram do passado. Histórias de crianças, mulheres, pessoas escravizadas e trabalhadores, e inúmeras outras sobre as quais o passado não manteve um registro escrito”, explica.
A próxima etapa desse trabalho diz respeito à análise desse passivo de cerca de 3.500 peças encontradas. Além de um registro completo do Cais do Porto Histórico por meio de uma modelagem em terceira dimensão (3 D). Para o arqueólogo a expectativa é a de que, ao final do trabalho, os rio-grandinos e rio-grandinas possam se reencontrar com o seu passado, e se reencontrando com ele possam reencontrar com a sua própria identidade, hoje esvaziada, na sua percepção.
A revitalização do Centro Histórico vai trazer um novo espaço de lazer e cultura para toda a comunidade rio-grandina. Além disso, também vai incentivar o turismo na região, já que vai contar a história do desenvolvimento do próprio Rio Grande do Sul, uma vez que o estado nasceu aqui. Logo que tudo estiver pronto, este será mais um espaço para que a população tenha orgulho da sua cidade.
Assessoria de Comunicação Social Prefeitura Municipal do Rio Grande
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