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PancPop conclui etapa de plantio de aproximadamente 20 espécies de Panc em São Lourenço do Sul

Plantações foram feitas na propriedade de agricultores participantes do 7º HortPanc, nas localidades de Prado Novo e Boa Vista

A implementação de aproximadamente 20 espécies de Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc), iniciada em 20 de outubro nas localidades de Prado Novo e Boa Vista, no interior de São Lourenço do Sul, teve seus plantios finalizados nas propriedades de diversos agricultores que participaram do 7º HortPanc.

A ação faz parte do projeto de extensão PancPop, do Campus São Lourenço do Sul da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), em parceria com a Embrapa Hortaliças e agricultores locais.

Jaqueline Durigon, docente da FURG e coordenadora do projeto, explica que a colaboração com a Embrapa Hortaliças, de Brasília, começou em 2019, durante as atividades formativas do projeto.

O marco inicial da parceria foi no segundo Agro Panc, evento regional realizado em Pelotas, no qual o pesquisador Nuno Madeira foi convidado a palestrar para os agricultores.

Durante a programação, a Embrapa apresentou suas pesquisas sobre o cultivo de Panc, fortalecendo a parceria ao longo dos anos, especialmente com a realização dos eventos nacionais do Hort Panc, que englobam uma rede de pesquisadores e extensionistas, da qual Jaqueline faz parte.

O resultado da colaboração foi refletido na implementação de sistemas de cultivo de Panc nas propriedades dos agricultores, sendo um passo importante dado pelo projeto, como explica Jaqueline.

“Agora, a Embrapa segue com a parceria, mesmo após o evento, e continua construindo conosco esses sistemas de produção, a partir da experiência que ela tem nessa temática, que vem desde 2006, com o desenvolvimento de uma coleção de plantas alimentícias não convencionais, incluindo as chamadas hortaliças tradicionais. Com toda essa experiência acumulada, nós conseguimos usufruir desse conhecimento, trocar informações com os agricultores e, assim, construir os sistemas de produção”, afirmou a docente.

Etapas do projeto

De acordo com Durigon, o PancPop é estruturado em três etapas: sensibilização, formação e intervenção. Todas essas fases estão sendo realizadas simultaneamente, por meio de ações de campo, oficinas de degustação, identificação das plantas e eventos formativos voltados para agricultores e consumidores.

“A parceria com a Embrapa está nos permitindo desenvolver essa parte, principalmente no cultivo, o que nos proporciona maior regularidade de quantidade de produção para abastecer as feiras locais e garantir a alimentação das famílias agricultoras, além de promover a conservação das sementes e mudas dessas espécies, tanto nativas quanto naturalizadas. Portanto, essa parceria com a Embrapa tem sido fundamental para qualificar nosso processo, especialmente nesta etapa de intervenção, que é direta, com os agricultores e consumidores”, disse Jaqueline.

A expectativa do projeto é diversificar os sistemas produtivos dos agricultores locais, promovendo a troca de sementes e mudas, e criando novas alternativas de comercialização, tendo o objetivo de desenvolver sistemas de produção resilientes às mudanças climáticas, considerada uma demanda urgente para a agricultura.

“É criar e construir, junto com os agricultores, esses sistemas para que eles possam enfrentar, dentro da produção, os eventos climáticos adversos e, assim, garantir que os consumidores continuem tendo acesso a esses alimentos, em um contexto de crescente instabilidade”, comentou Durigon.

Retorno dos participantes

Os agricultores têm demonstrado uma resposta positiva ao projeto, comparando as Panc com culturas convencionais, que enfrentam dificuldades.

Jaqueline conta que as batatas, uma cultura tradicional de São Lourenço do Sul, enfrentam problemas de produtividade devido a doenças e às condições climáticas. Já as Panc têm se mostrado mais resistentes a esses desafios.

“Eles já observam, por exemplo, que as batatas, que é algo muito tradicional de São Lourenço do Sul, a produção de batatas. Ela já tem vários problemas, desde incidência de doenças a questões climáticas, que a produtividade já não consegue alcançar o desejado e essas plantas sim, conseguem enfrentar esses problemas. Então está sendo super positivo e está também levando a problematização, né? Eles mesmo problematizam a agricultura feita hoje, né? E entendem que tem que haver mudanças”, relatou a coordenadora.

“Portanto, está sendo muito positivo e também está gerando uma problematização, porque eles mesmos estão questionando a agricultura praticada hoje e entendendo que mudanças são necessárias”, observou Jaqueline.

O projeto ainda tem promovido uma troca rica troca de saberes entre o conhecimento acadêmico e as práticas populares, com os estudantes da FURG participando ativamente do processo.

“Os estudantes estão tendo a oportunidade de vivenciar um processo contínuo e construtivo. Eles aliam saberes técnicos, científicos e acadêmicos a conhecimentos populares. Na implementação desses sistemas de produção, trazemos os referenciais acadêmicos, mas adaptados aos contextos locais, às tecnologias locais, aos saberes locais e ao que os agricultores já praticam em suas propriedades, incluindo o maquinário que já possuem. Assim, os estudantes estão vivendo esse processo formativo, observando as respostas do ambiente e das plantas aos manejos que realizamos, acompanhando como os agricultores recebem essas espécies e aprendendo tanto técnicas camponesas quanto acadêmicas. Eles estão vivenciando uma verdadeira escola junto ao campesinato”, destacou Jaqueline.

Testes de observação

O projeto também está realizando experimentos que geram novos dados sobre o cultivo de algumas espécies de Panc de maior interesse, mas com pouca informação disponível sobre suas formas de cultivo, produtividade e outros aspectos agronômicos.

“A gente não pode chamar de experimento porque não temos um método experimental formal, mas estamos fazendo testes para entender melhor como essas espécies reagem a diferentes espaçamentos e metodologias de conservação”, pontuou Jaqueline.

Um dos testes está sendo feito com o Tupinambor, envolvendo diferentes tempos de vernalização, que é esse processo de manter o Tupinambor a baixas temperaturas por um certo número de meses antes de eles serem levados a campo.

“Estamos testando se há alguma diferença significativa na produtividade, no desenvolvimento das plantas, de acordo com o tempo que eles ficam mantidos na geladeira”, esclareceu a docente.

O Mangarito é outra espécie sendo testada no campo, com experimentos que avaliam diferentes espaçamentos de plantio para determinar qual configuração proporciona maior produtividade e melhor desenvolvimento da planta.

“Estamos em um nível bastante exploratório ainda da pesquisa em relação a essas hortaliças não convencionais. Esse trabalho vem trazer as primeiras informações, ou informações básicas, vamos dizer assim, para a gente começar a entender essas espécies e cada vez aprimorar mais as técnicas de plantio, de conservação das sementes e mudas de pós-colheita”, informou Durigon.

Indicadores de sucesso

Segundo Jaqueline, o sucesso da parceria será medido pela integração das Panc nos sistemas produtivos dos agricultores e pela sua presença nas feiras e mercados locais.

Outro indicador de sucesso é a inclusão dessas espécies na alimentação dos agricultores e sua incorporação nos sistemas produtivos. Além disso, o engajamento crescente dos agricultores com o projeto PancPop é um fator fundamental, pois envolve a diversificação da agricultura, que, à medida que cresce e se aprofunda, demonstra o impacto positivo do projeto.

“Essa rede nacional também se fortalece com essas parcerias. Pensamos em expandir esses sistemas de produção que hoje a gente está implementando em São Lourenço para outras regiões do Rio Grande do Sul, sendo o intuito dessa parceria também com a Embrapa Hortaliças”, finalizou.

Secom FURG

Foto: Acervo PancPop

 

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