Pare de ver filmes de super-heróis!
Sim, você caiu em um clickbait. Mas acalme-se! Tenho algo interessante para lhe dizer, e dá pra ler em uma ida ao banheiro.
Para os nerds fãs de quadrinhos como eu, esse é um dos momentos mais incríveis do cinema. Marvel e DC pulam em telas gigantes de alta definição e os olhos chegam a lacrimejar por causa da avalanche de fótons derretendo nossa córnea. A infância de diversas gerações rende bilhões anuais em produtos, e nós, leitores gordinhos de sofá, pegamos tudo o que podemos. Mas esses dias, eu, um dos leitores gordinhos, senti falta de algo.
Preso em séries e filmes de universos fantásticos estabelecidos, como as já citadas Marvel e DC, e também Matrix, Star Wars, Alien e muitos outros, bateu-me um distanciamento profundo do cinema como contador de história. Senti não ver filmes há muito tempo, sentimento interpretado como a falta de experiências diferenciadas com a sétima arte.
Ai de mim, diria Leminski, por atribuir função para a arte. Mas gosto de sugerir, principalmente para meus alunos, que uma das motivações para experimentarmos diversos gêneros de cinema é experenciar eventos que estão distantes de nós e os sentimentos que eles proporcionam.
Assim, meu sentimento chegou a uma aula do sexto ano. Depois de um mote que esqueci agora, palestrei sobre a importância de vermos filmes diferentes, ouvirmos músicas variadas e lermos todo tipo de livro. Falava para eles, que me ouviam atentamente, mas era pra mim o recado. Me faltava uma boa experiência humana na tela, uma superação além dos limites da vida comum, um drama real, um futuro bem inventado, ou até um romance meloso para lembrar como são intensas as paixões.
Mais tarde, de volta ao streamings, a seleção para meu perfil denunciava o andar dos últimos meses: apenas fantasia e ficções fantasiosas. Nada contra. Pelo contrário, muito amor pelos gêneros. Mas eu precisava me reencontrar como ser humano.
O primeiro passo foi ouvir umas baladas dos anos noventa. Relembrar como o amor romântico fazia parre de nossas vidas. Em seguida, assisti a um mini documentário da Netflix, chamado “John à procura de aliens”, que não é sobre invasores das estrelas, mas sim a respeito de um senhor e sua jornada homoafetiva.
Um calorzinho no peito por ver realidades simples no foco da câmera. Uma reconexão com o real e o sensível do existir. E um importante momento de distanciamento das fugas fantásticas que nos iludem graciosamente. Até meus níveis de ansiedade baixaram. Como exemplo, como inspiração, como terapia, a história de John, contada em poucos minutos, me devolveu a alma perdida no espaço, ou em Niflheim.
Se esse texto é um panfleto contra o cinema fantástico? Claro que não. “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” vem aí e eu tô louco pra ver. Mas não quero me perder das verdades do existir: o amor, a coragem, o pesar, a derrota, a vitória, a maldade, a solidariedade, o luto e o percurso, ou o como viver sua própria narrativa.
Aterrizemos um pouco por enquanto. Faz bem.
Que tal umas dicas de films para aterrizar? Aí vão:
- “Jojo Rabbit”, filmaço do diretor de Thor Ragnarok sobre a Segunda Guerra Mundial na perspectiva de uma criança.
- “Simplesmente, amor”, longa com diversas maneiras de viver romances.
- “Hereditário”, o melhor Terror dos últimos anos. Sim, é fantástico. Mas você vai sair do filme pesquisando o que aconteceu ali.
- “Histórias Cruzadas”, conta a trajetória de mulheres negras nos anos 60.
- “O Jogo da Imitação”, a história de Alan Turing, um dos pais da computação.
Abração a todos!
Rody Cáceres
Professor e Escritor dos livros: “A Barata Pacifista” e “O Curandeiro“.
Siga no Instagram: @rodycaceresescritor
A vida real não é fácil, mas é o que temos. Indico mais 3 filmes que são fora da caixa. Corra Lola , A filha do botânico, Os 27 beijos perdidos. Abração
Opa! Desse eu só conhecia o Corra Lola. Valeu pelas dicas,