Primeira igreja portuguesa no RS começa a ser restaurada
Comunidade abraça o prédio da Catedral de São Pedro, em Rio Grande, marcando o início das obras de restauro do telhado da igreja
A Catedral de São Pedro, em Rio Grande, primeira igreja portuguesa no Rio Grande do Sul, começa a ser restaurada. O ato de lançamento da obra aconteceu hoje(26), com um abraço simbólico da comunidade ao prédio. O padre Raphael Colvara Pinto, pároco da matriz, lembrou a importância do engajamento da comunidade para preservação da memória, já que a igreja antecede a data de criação da cidade. “Foi o primeiro prédio em alvenaria na antiga vila do Rio Grande, por isso fazer o restauro da nossa igreja é manter viva a história da nossa terra”, destacou.
Construída em 1755, a matriz faz parte dos primeiros tombamentos nacionais no Brasil, junto com a Capela da Ordem Terceira de São Francisco. Na época tratava-se do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), com processo datado de maio de 1938. O projeto de restauro se concretiza via Lei Rouanet, com R$ 420 mil em recursos, através de patrocínio da Bianchini/SA, Termasa – Terminal Marítimo Luiz Fogliatto S/A e apoio dos Supermercados Guanabara. O representante da Bianchini, Nilton Andrade, destacou a importância de a iniciativa privada apoiar projetos de preservação. “Nos sentimos responsabilizados a apoiar esta importante ideia, que promove a nossa história”, declarou.
A obra tem foco no restauro do telhado e previsão de duração de até sete meses. Durante o período a igreja continuará aberta à comunidade. “Queremos que todos participem das etapas da obra, despertando e reforçando a sensação de pertencimento das pessoas”, observa o pároco. A arquiteta responsável pelo projeto, Jane Borghetti, relembra que a última restauração ocorreu em 1997 e atualmente a igreja sofria com infiltrações, cupins e umidade. “É um projeto que se concretiza através da união de esforços em prol da salvaguarda do nosso patrimônio histórico”, resumiu. Segundo ela, a comunidade será convidada a acompanhar o andamento da obra e posteriormente a arquiteta ministrará uma aula aberta a alunos dos cursos de arquitetura. “A ideia é abordar cada etapa, mostrar as técnicas de restauro e ressaltar a importância histórica do imóvel”, observa Jane. A igreja é um dos pontos turísticos da cidade e recebe em média 300 visitantes, entre fiéis e turistas nacionais e internacionais, por dia.
EDIFICAÇÃO
Em 1794 foi construída uma capela para a Ordem Terceira de São Francisco de Assis, em sua parte posterior, com acesso pela rua de trás. Estas igrejas geminadas pela parte dos fundos formam um conjunto exemplar e incomum, dando a impressão de ser um templo único. A Catedral de São Pedro é uma edificação pequena e sóbria, com duas torres e acesso central encimado por frontão. Com nave única e coro, possui retábulos trabalhados no altar e na capela mór. Atualmente abriga a capela de São Francisco abriga o Museu de Arte Sacra da cidade.
(Imagens: Nauro Júnior – Edição: Ígor Islabão)
HISTÓRICO
Rio Grande foi a primeira povoação oficial do sul do Brasil, fundada em 1737. Na ocasião, o Brigadeiro José da Silva Pais, a mando de D. João V, Rei de Portugal, construiu um presídio na foz do Rio Grande de São Pedro, considerado posto militar estratégico para dar apoio à Colônia do Sacramento – povoação fundada em 1680 por portugueses, em território espanhol. A partir de 1752, chegaram à região colonos açorianos, trazidos para garantir a posse daquele território para Portugal, mediante sua ocupação efetiva. O General Gomes Freire de Andrade traçou o plano da nova povoação determinando a construção de uma Igreja, a Matriz de São Pedro. Em 1751 o povoado foi elevado à condição de Vila e em 1760 à categoria de Capital Administrativa da Capitania do Rio Grande de São Pedro. Na disputa entre Portugal e Espanha pelas terras do extremo sul do país, em 1763, a vila foi ocupada pelos espanhóis por 13 anos. Reconquistada pelo governo português somente em 1776, quando a Capital foi transferida para Porto Alegre.
Jornalista Gabriela Mazza/Satolep Press
Foto: Nauro Júnior/Satolep Press