Professora Alfabetizadora, Mulher e Reitora: um bate-papo com Cleuza Dias
Rio-Grandina, estudou nas escolas da cidade e graduou-se na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Cleuza Maria Sobral Dias é a primeira mulher a ocupar cargo de Reitora na Furg. A sutileza e atenção aos detalhes, são nítidas na sua forma de agir. Com maestria, Cleuza conduz a Universidade e demonstra que as mulheres devem ocupar os seus espaços em um nível de igualdade de gênero.
Trajetória profissional e acadêmica
De acordo com Cleuza, foi no magistério que se identificou com a docência. E por esse motivo, buscou a Furg para ingressar no curso de Pedagogia. Posteriormente, fez mestrado e doutorado na área da Educação.
Ela nos conta, que antes de ingressar no doutorado, trabalhou como professora alfabetizadora por dez anos. Conforme relata: “ Essa foi uma experiência muito importante na minha formação, escolha profissional e depois para a minha decisão como professora Universitária e a escolha do Mestrado e Doutorado”. Atuou como funcionária da rede pública e privada.
Também trabalhou no Ensino Superior na formação de professores com a Disciplina de Metodologia da Alfabetização. Para Cleuza, foi a oportunidade para transportar toda a experiência nas escolas. “Sempre digo quando me apresento: Sou professora alfabetizadora como experiência e permaneci de coração, mesmo após tendo ingressado na Universidade”, conta com muita satisfação.
Diretora no CAIC
Na FURG, Cleuza, assumiu a direção do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC). Conforme explica, “a experiência no CAIC foi muito importante, me enriqueceu como pessoa, como profissional e especialmente como gestora”.
Saudosamente, relembra que já havia assumido a Coordenação de uma escola antes de ingressar na Universidade. “ Mas ser Diretora do CAIC, foi uma experiência diferente. Nesta interação com a Universidade, com uma escola do Município, com um Projeto de Formação Integral dos Estudantes e algumas crianças em situação de vulnerabilidade. E então, toda essa experiência em conjunto com as professoras da Rede do Ensino Fundamental, foi muito importante. Especialmente, para eu repensar a minha prática pedagógica no Ensino Superior, e também como gestora”, ressalta.
Gosto pelos estudos
Questionada ela responde sem hesitar que sempre gostou de estudar. A Reitora explica que quando iniciou sua alfabetização, recém completava seis anos. E predominava as características de ser muito participante e falante.
Ser Mãe
“Interrompi meus estudos, antes da Universidade, porque fui ser mãe”. Ela explica, que logo que teve a oportunidade, retornou para a sala de aula.
Cleuza vem de uma família com pouco estudo, porém, conforme aponta, com pais que lhe concederam essa oportunidade. E apesar de naquela época não existir muita valorização para educação, ela destaca que seus pais sempre respeitaram as suas decisões.
Interesse pela área acadêmica
Foi justamente após concluir o magistério que surgiu sua identificação com a docência. A decisão foi acertada, Cleuza escolheu o curso de pedagogia, já pretendendo ser professora.
Na Universidade, ela conta sobre sua carreira que define como “muito intensa”.
Ingressou como professora, saiu para cursar o doutorado, quando retornou, atuou na Coordenação do Curso de Pedagogia, e depois, assumiu a Pró Reitoria de Graduação da Universidade pelo período de 8 anos. “Foi uma experiência que ampliou o meu conhecimento sobre a Universidade”, aponta.
Desafios das mulheres em ocupar lugares de poder
“Os desafios sempre são muito grandes para uma ocupação de cargos e para a carreira profissional”, ressalta. Segundo a Reitora, os homens também têm os seus desafios em relação a competência para a ocupação destes cargos.
Cleuza explica que se trata de um outro desafio, ocupar os cargos que até então, em determinadas épocas, era ocupado só por homens. Por isso, para ela, existe a busca pela igualdade de possibilidades. Ainda ressalta:
“Tive desafios como várias outras mulheres que ocupam cargos antes ocupados só por homens. E não só estes, todos os lugares que as mulheres buscam ocupar, elas passam por estes desafios de demonstrar suas competências e as suas capacidades”.
Gestão Masculina X Gestão Feminina
Para Cleuza, os principais desafios são particulares, e estão relacionados ao conhecimento que cada um precisa dar conta para assumir determinados cargos. O grande desafio, segundo acredita, é que a comunidade tenha confiança no seu trabalho e competência.
Trata-se do perfil de cada um de nós quando assumimos um cargo de gestão. “Sem dúvida, o fato de ser mulher ocupando cargo de relevância em uma Instituição de Ensino, em uma Universidade, como não é muito comum, sempre tem um diferencial”, explica.
Cobranças femininas
Cleuza ressalta a intensa cobrança que as mulheres fazem de si próprias.
“ Nós mulheres nos cobramos muito para promover este processo de igualdade de gênero, nós nos colocamos também nesse lugar de exigência conosco. De mostrar o quanto somos competentes e que podemos assumir estes cargos. Acredito que o desafio maior nosso seja a necessidade de mostrar que somos capazes de ocupar estes lugares, temos essa competência. Por isso, é fundamental nos colocarmos à frente das tomadas de decisões”.
A Universidade perfeita
“A perfeição não existe. Nós seres humanos, somos seres inconclusos e fazemos as Instituições. Estamos sempre em aprimoramento e buscando melhorar”, ressalta.
Também fala sobre o processo de expansão, especialmente nas Universidades Públicas nos últimos anos.
“Dependemos de uma política de governo, porque dependemos de um reconhecimento por parte dos governos de que a educação superior é importante para a nação”, defende.
“No que temos que melhorar enquanto Instituição de Ensino Superior, é manter esse processo de inclusão. Nos últimos anos, a Universidade tornou-se mais inclusiva, diversa e plural. Isso é um desafio permanente e dependemos muito das políticas públicas”, explica.
Igualdade de gênero e debate na Universidade
Para a Reitora, a Universidade precisa estar muito atenta em busca da igualdade de gênero, promover o debate, envolver a sociedade nesse debate, para que se possa enfrentar os grandes desafios.
Recado para as mulheres
“Ocupem os seus lugares. Seja ele qual for, porque a escolha é de cada uma. Demonstrem suas competências, trabalhe num grande coletivo, na busca da igualdade de gênero. Seja qual for a escolha das mulheres, se a escolha for permanecer em casa, junto aos seus filhos, se for este o lugar que a mulher quiser ocupar, que ela ocupe, mas que ocupe em num nível de igualdade de decisões. Se for atuando no mundo do trabalho, que ocupe esse lugar buscando essa igualdade de gênero, com as suas potencialidades, suas competências e buscando esse reconhecimento da sociedade. Somos todas capazes de ocupar lugares, seja qual for. O importante é que ele seja ocupado em um nível de igualdade em relação aos homens”.
Jornalista Thuanny Cappellari – Equipe Rio Grande TEM