Projeto Mar de Areia recebe registro fotográfico com cena rara de Tuco-Tuco
As dunas costeiras de Rio Grande são conhecidas por sua beleza imponente e pelos importantes serviços ambientais que prestam, mas também são palcos de conflitos que poderão ser solucionados com a criação das duas unidades de conservação propostas pelo Projeto Mar de Areia: um Parque Natural, voltado à preservação dos ecossistemas de dunas e adjacências na zona do Molhe Oeste, e um Refúgio de Vida Silvestre, destinado a proteger espaços naturais utilizados para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória, em especial espécies de status preocupante ou ameaçadas de extinção.
O tuco-tuco “Ctenomys flamarioni” é uma espécie de roedor que habita galerias subterrâneas escavadas em nossas dunas. Esta espécie está ameaçada de extinção na categoria “EN-Ameaçada” nas chamadas “listas vermelhas” publicadas em nível global, nacional e estadual. É uma das espécies mais ameaçadas de nossas dunas.
Recentemente, tivemos o registro de um indivíduo em processo de alimentação. A fotografia, de autoria de Carlos Eduardo Soares, demonstra a sua habilidade em segurar com as patas seu alimento. De acordo com o fotógrafo, Carlos Eduardo Soares “Procurei divulgar esta cena para que outras pessoas possam conhecer mais sobre o tuco-tuco, sejam sensibilizadas e, pensem em conservação ambiental”, diz o fotógrafo que há anos se dedica a retratar a fauna e flora de nossa praia e dunas.
E, segundo o biólogo, Bruno Busnello Kubiak, coordenador do projeto “Ações para a conservação do tuco-tuco das dunas”, executado ao longo de todo o litoral do estado[BK1] , este é um registro raro de se obter, pois esta espécie passa a maior parte do seu tempo em galerias de túneis abaixo da superfície do solo.
A perda de habitat pelo desenvolvimento da área costeira é apontada como uma das principais causas de ameaça a esta espécie. A imagem obtida pelo fotógrafo Dudu Soares nos dá indícios de que o tuco-tuco também precisa competir por seu alimento com uma espécie domesticada que invade nossas dunas com frequência. O capim-das-dunas (“Panicum racemosum”), ingerido pelo tuco-tuco na fotografia, pertence à família “Poacea”, que compõe cerca de 66% da alimentação da espécie. Infelizmente, o capim-das-dunas é também a preferência do gado que se alimenta solto e ilegalmente sobre as dunas de Rio Grande, podendo-se facilmente observar extensas áreas que apresentam folhas cortadas junto ao solo pela herbivoria do gado.
O tuco-tuco “Ctenomys flamarioni” é uma espécie endêmica e ocorre apenas no litoral do Rio Grande do Sul (entre o Chuí e Arroio do Sal). A criação de áreas protegidas para a proteção do seu habitat do tuco-tuco é uma ação recomendada pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), organização internacional responsável pela elaboração dos critérios de avaliação de risco de extinção das espécies, aplicados em nível global, mas também dentro das jurisdições internas (no Brasil, nos níveis nacional e estadual).
A iniciativa do Projeto Mar de Areia visa, segundo sua coordenadora, a oceanóloga Lilian Wetzel, criar um arcabouço de medidas ordenadas de gestão que contribuirão para a solução deste problema. Neste contexto, o projeto defende a criação de duas Unidades de Criação nas dunas litorâneas de Rio Grande a fim de proteger o habitat desta e de outras tantas espécies, garantindo que apenas atividades compatíveis com a sua conservação sejam praticadas nestas áreas, aportando recursos para a fiscalização das atividades ilícitas e melhorando o status de conservação das espécies nativas.
O “Projeto Mar de Areia” e o “Projeto Ações para a Conservação do Tuco-tuco das Dunas” são ambos patrocinados pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e executados, respectivamente, pelo NEMA e pela ONG Mamíferos RS.
Lilian Wetzel/Projeto Mar de Areia
Foto: Carlos Eduardo Soares