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Restauro do Palácio Piratini preserva patrimônio histórico e cultural gaúcho

Sede do Executivo faz 102 anos nesta quarta-feira (17)

“Vocês sabiam que o palácio está de aniversário hoje? Ele completa 102 anos, tem um bom tempo de vida, por isso profissionais trabalham nesta reforma que vocês estão vendo”, disse o governador Eduardo Leite para um grupo de alunos da Escola Municipal 25 de Julho, de Picada Café, que visitava o Palácio Piratini nesta quarta-feira (17/5).

As crianças testemunharam a concretização de projetos cujo objetivo é recuperar e manter a estrutura do prédio histórico que serve como sede para o governo do Estado e adjacências. O restauro de obras, fachadas e ambientes internos dos edifícios governamentais começou em janeiro e deve seguir em diversas etapas até o fim deste ano.

Com andaimes ocupando diversos espaços do complexo do Palácio Piratini, profissionais se empenham na recuperação de inúmeros itens do acervo histórico e cultural que moldam a personalidade da sede do governo estadual. Do piso ao teto, de pequenos detalhes até os grandes portões de ferro que dão acesso ao imóvel, tudo está recebendo a atenção necessária para garantir uma vida prolongada a esse patrimônio gaúcho.

Por se tratar de uma construção centenária, a restauração passa por processos delicados e que necessitam de profissionais bem treinados para a execução correta. Dessa forma, as ações foram divididas em seis projetos, que focam em áreas específicas do complexo. Além disso, outras fases menores de reparos já vinham acontecendo nos últimos anos.

De acordo com o diretor de Conservação e Memória do Palácio Piratini, Mateus Gomes, o projeto de restauração arquitetônica e das obras de arte foi possível devido ao olhar da gestão atual sobre a preservação do patrimônio.

“Todas as ações que estão ocorrendo só são possíveis pelo olhar da gestão em preservar o patrimônio público. No passado, o Estado não conseguiu investir no seu próprio patrimônio, o que causou diversas defasagens ao Palácio Piratini. Agora, aos poucos, temos trabalhado em diversos pontos que precisavam de uma atenção, de restauro, de requalificação ou de inovação”, comentou.

Para abarcar todas as necessidades de restauro do complexo Palácio Piratini, que abrange também o prédio 1.005, onde se localiza a Casa Civil, foram criadas seis frentes de trabalho, com focos em diferentes aspectos do patrimônio. O investimento total é de R$ 16 milhões. Três empresas especializadas realizam simultaneamente as restaurações, dando nova vida aos edifícios históricos.

Os projetos de restauração arquitetônica ficaram sob o comando do Estúdio Sarasá e da Arquium.

Aldo Locatelli

Um dos projetos em andamento tem como foco a restauração das pinturas murais do italiano Aldo Locatelli, realizada pela equipe da artista plástica Maria Cristina Ferrony. O pintor foi contratado em 1951 para criar os 23 murais que ornamentam três salões da Ala Governamental.

Maria Cristina já havia participado de outras intervenções no Piratini ao lado da restauradora Leila Sudbrack. Conforme a artista plástica, os materiais utilizados precisam seguir regras internacionais que possibilitem a reversão do trabalho realizado.

“Todas as obras, assim como uma vida humana, passam por um processo de deterioração. O trabalho de preservação da obra será necessário em algum momento, para que, no futuro, possam ser identificados os restauros feitos e que não são originais, possam ser tratados talvez até com materiais melhores, visto que a ciência da restauração avança”, comentou Maria Cristina.

O processo de restauração realizado no Palácio Piratini busca fazer os reparos de forma que, quando observados de longe, sejam imperceptíveis. “Somente de perto é possível ver as partes onde tem intervenção, pois há um tratamento diferente nessas partezinhas, são micropedaços em que podemos observar bem o trabalho de restauro, utilizando uma lupa ou algo semelhante”, completou.

Os trabalhos começaram pela antessala do gabinete governamental, onde se encontram as pinturas representativas das artes e a intitulada “O Estado Riograndense”. Após a conclusão do mural “Formação do Rio Grande do Sul”, no Salão Alberto Pasqualini, os restauradores começaram a trabalhar nos que recontam a história do Negrinho do Pastoreio. No total, 18 murais narram a antiga lenda e ocupam as paredes e o forro do salão batizado em homenagem ao personagem.

Enquanto os murais das paredes requerem estruturas mais simples para a realização dos restauros, as pinturas localizadas no forro necessitarão de um trabalho mais complexo. “Quando chegarmos ao forro, será necessário montar um andaime maior, uma estrutura fixa que precisará, pela nossa previsão, ser montada e desmontada em torno de três vezes, para trabalharmos nos cinco painéis, levando em consideração as plataformas e a segurança”, explicou a restauradora.

A previsão é de que a restauração das obras de Locatelli termine nos próximos meses, visto que o cronograma tem sido cumprido sem empecilhos, se adaptando bem às possíveis agendas do governo que surgem durante a execução do trabalho.

Restauração estrutural

Para executar a recuperação da estrutura física do complexo Palácio Piratini, as empresas especializadas em restauração arquitetônica Estúdio Sarasá e Arquium trabalham em diferentes frentes que têm como cerne os materiais usados em cada item que passa pelo processo de recuperação. Com as reformas, são revelados detalhes que acabaram perdendo destaque devido à ação do tempo.

Segundo a arquiteta Magda Rosa, responsável pela supervisão dos serviços do Estúdio Sarasá, o trabalho de pintura dos salões é um dos que mais requer atenção a detalhes e cuidado na execução. “Falo em pinturas parietais, só que os salões são bastante elaborados, têm diversas tonalidades de cores, às vezes muito similares, e com vários ornatos. Além disso, tem pintura dourada, além de douramento em folha de ouro na parte superior. Quando pintamos os locais com douramento em ouro, só limpamos o metal e pintamos sem sujá-lo”, ressaltou.

Os portões e as portas de entrada do Palácio Piratini também passam por processos cuidadosos de recuperação, eliminando a oxidação e revelando a coloração original de vários itens. Além disso, as pedras portuguesas e as fachadas dos edifícios passam por limpeza e manutenção.

Na Ala Residencial, a Arquium requalifica os salões, controla as infiltrações e reforma o terraço e claraboias, enquanto o Sarasá se ocupa das persianas de madeira das janelas, caso em que, algumas vezes, não é mais possível encontrar peças comercializadas.

Nos ambientes de trabalho, as empresas têm atuado para requalificar as salas ocupadas pela Casa Militar, no Piratini, e o prédio 1.005, onde são executadas as atividades da Casa Civil. Para isso, o Sarasá atua na restauração de piso de parquet e climatização dos espaços.

Devido à necessidade de retirada de alguns objetos do local original, uma oficina temporária foi construída nos fundos do palácio. Em determinados casos, essa remoção facilita o trabalho dos restauradores. “É uma diferença gigantesca, porque é mais fácil de trabalhar na bancada e conseguimos, em menos tempo, um trabalho de melhor qualidade”, explicou. Fatores como o clima e o tempo que alguns produtos levam para fazer efeito também influenciam no desenvolvimento das restaurações.

Mulher em construção

Em uma parceria entre o Estúdio Sarasá e a ONG Mulher em Construção, de Canoas, mulheres interessadas em aprender sobre restauração de prédios históricos foram recrutadas. No total, 22 compõem o grupo de 33 funcionários que trabalham nas obras do Palácio Piratini, cerca de 66% da força de trabalho utilizada nas atividades de restauro.

“Não são pessoas da área de restauro, mas que começam a ser treinadas, e o trabalho mesmo vai mostrando como temos de fazer, qual é a melhor função para fazer. O estúdio canalizar essas pessoas, descobre os dons, quais são as melhores aptidões e coloca essas mulheres nas funções que elas se adequam melhor”, detalha Magda.

Conforme a arquiteta, a ação de recrutamento de mulheres ocorre há mais de um ano, e o estúdio oferece um pré-treinamento às selecionadas, possibilitando um aprendizado assistido quando elas começam a trabalhar nas obras.

SECOM RS

Foto: Gustavo Mansur/SECOM RS

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