Rio Grande amanhece sem transporte coletivo
Trabalhadores da Noiva do Mar trancaram a saída de veículos da garagem da empresa de transporte coletivo na manhã desta sexta-feira (19/03), reivindicando Direitos Trabalhistas. A última paralisação, pelo mesmo motivo, ocorreu há um mês, em 19 de fevereiro.
O Presidente do Sindicato dos Rodoviários, Fábio Machado, relata atraso nos pagamentos dos meses de janeiro e fevereiro, Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) atrasado desde 2017 e 13º salário atrasado. Ainda segundo o presidente, os trabalhadores saíram de férias e não receberam os proventos. De acordo com Machado, a empresa solicitou aos colaboradores, mesmo sem o devido pagamento, a assinatura dos contracheques de janeiro e fevereiro. Segundo o sindicalista, um dos motivos desta solicitação, é para que a empresa tenha a folha de pagamento assinada em dia e possa realizar o imposto de renda.
Fábio alega também a falta de pagamento de verbas rescisórias aos trabalhadores demitidos. Conforme explica, os ex-funcionários não possuem os devidos depósitos do FGTS e nem receberam rescisão.
Machado disse que os funcionários só irão retornar o trabalho quando todas as verbas devidas forem pagas.
O que diz a Noiva do Mar
A Noiva do Mar enviou uma nota na qual informa que não recebeu aviso sobre a paralisação, conforme determina a lei para que seja colocado o mínimo de frota disponível na rua. A nota também justifica a situação financeira da empresa e atribui o não pagamento dos salários de janeiro, a Bandeira Preta, instituída no Rio Grande do Sul.
Em relação ao pagamento do mês de fevereiro, a empresa de transportes, informa um acerto verbal entre colaboradores e a direção, no qual foi acordado pagamento da primeira parte até 05/03 e o restante até 29/03.
Sobre o 13º salário foi informado o parcelamento da segunda parte a ser paga nos meses de fevereiro, março e abril de 2021.
Quanto as demissões, a direção da Noiva do Mar, informa que foram dispensados 44 trabalhadores, no qual 15 escolheram o Plano de Demissão Voluntária e 29 não aceitaram acordo. A Noiva do Mar explica que aguarda audiência de conciliação ou julgamento.
Leia a nota
“Sindicato impede circulação de ônibus novamente
Utilizando a tática de trancar os portões da garagem da Noiva do Mar, o Sindicato dos Rodoviários novamente impediu que o público rio-grandino utilize ônibus na madrugada e manhã desta sexta-feira, 19. Conforme a direção da empresa, não houve aviso sobre a paralisação, como determina a lei, para que seja colocado o percentual mínimo obrigatório de ônibus na rua. “Estamos sempre dispostos a dialogar, mas não recebemos nenhuma pauta de reivindicação ou aviso”, diz o diretor Eduardo Urzedo.
Sobre a situação financeira divulgada pela entidade, a direção informa que em 31 de dezembro encerrou a lei 14.020, que permitia a redução de jornada e trabalho, fazendo com que os salários de janeiro ficassem em aberto em 25% (o percentual da lei encerrada), com compromisso de pagar até início de março. A bandeira preta instituída no Rio Grande do Sul em 26 de fevereiro impediu esse pagamento.
Quanto aos salários de fevereiro, há um acerto verbal entre direção e colaboradores em que 50% dos salários são pagos no 5º dia útil e até o dia 29, a empresa paga os outros 50%. Houve o pagamento da primeira parte dia 5 de março e está programado normalmente para o dia 29 o restante. O tíquete alimentação foi liberado no dia 1º de março para todos os colaboradores.
O 13º salário de 2020 teve parcelada a segunda parte para pagamento em fevereiro, março e abril. Foi paga a parcela de fevereiro e a de março está programada como planejado, para ser paga até o próximo dia 25.
“Já estamos em bandeira preta há três semanas. Antes da bandeira preta nossa arrecadação já era 46% menor em relação a antes da pandemia. Agora, caiu para 26%. Para cumprir o decreto do governo estadual de transportar só passageiros sentados, o município solicitou que mantivesse o mesmo número de veículos em operação, ou seja, estamos ofertando 70% das viagens e transportando 26% de passageiros”, diz Urzedo. Ele lembra ainda que só o óleo diesel, principal insumo das empresas do setor, teve aumento de quase 40% somente de janeiro para cá.
De 26 de fevereiro a 18 de março, a Noiva do Mar deixou de arrecadar R$ 300 mil, o que, conforme a direção, já não era suficiente para cobrir as despesas. E essa não é uma realidade só em Rio Grande. Em todo o Brasil o sistema de transportes tem sido duramente atingido. O prejuízo, segundo a associação do setor, já beira a R$ 12 bilhões e foram perdidos 60 mil postos de trabalho.
Houve apresentação de projeto para auxílio emergencial ao setor, no valor de R$ 4 bilhões, mas foi vetado pelo governo federal.
DEMISSÕES – esclarecendo a questão das demissões, também abordada pelo sindicato, a direção da empresa diz que foram dispensados 44 trabalhadores, sendo 15 optantes pelo Plano de Demissão Voluntária. Os outros 29 não aceitaram acordo e o sindicato entrou com ação judicial, sendo aguardada a audiência de conciliação ou julgamento.
Quanto à ação na porta da empresa, a Brigada Militar tem acompanhado mas a ação é pacífica, com cerca de 50 trabalhadores da ativa e demitidos em frente ao local. A frota segue abastecida dentro da garagem, pronta para operar. A empresa ainda aguarda também manifestação da Secretaria de Município de Mobilidade.”
Jornalista Thuanny Cappellari/RIO GRANDE TEM
Foto: Divulgação