Rio Grande é referência no auxílio aos povos indígenas durante a pandemia
Em meio ao contexto de pandemia, além de todas as demais ações planejadas e desenvolvidas para o enfrentamento ao Coronavírus no município, a Prefeitura do Rio Grande, por meio da Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para os Povos Indígenas (CMPPPI), tem dedicado especial atenção a essa população em nossa cidade. A Coordenadoria tem atuado organizando doações e ações de geração de renda, buscando que a assistência necessária neste período seja garantida aos povos indígenas da mesma forma que ao restante da população.
Segundo a titular da pasta, Tatiana Freitas, as aldeias se sustentam basicamente com a venda de artesanatos, atividades culturais nas aldeias e nas escolas, participações em feiras como Fejunca e Fearg e outros eventos municipais e regionais. Diante dos problemas causados pela COVID-19 em nosso país, grande parte dessas atividades precisaram ser suspensas ou reduzidas em função das medidas de prevenção necessárias para minimizar os impactos da doença. Por esse motivo, as comunidades indígenas tem dependido muito do auxílio do poder público e das doações da população de nossa cidade.
Entre essas medidas está o fechamento das porteiras das aldeias, determinado em março deste ano pela a Fundação Nacional do Índio (Funai), permitindo apenas o acesso de equipes da Funai, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e de forças de segurança pública. Tatiana explica que a decisão visa a proteção das famílias das aldeias, pois nesses locais a transmissibilidade do vírus tende a ser muito maior, já que as comunidades tem o costume de compartilhar vestimentas e utensílios no geral. Devido a grande distância das sedes desses órgãos, a Coordenadoria foi estabelecida pelo prefeito Alexandre Lindenmeyer, no decreto 17.058, como órgão oficial local de atendimento aos povos indígenas, sendo também o contato para doações de pessoas físicas ou jurídicas.
Auxílio durante a pandemia
Durante os três primeiros meses da pandemia (março, abril e maio), a Prefeitura estabeleceu um convênio com a Refinaria Riograndense para a doação de cestas básicas aos povos indígenas, compostas, em grande parte, por produtos não perecíveis. Uma nova parceria já está sendo analisada pela Prefeitura para continuar atendendo essas comunidades e manter a segurança alimentar e nutricional nas aldeias. Essa parceria ainda não foi oficializada, o que deve ocorrer nas próximas semanas.
Tatiana destaca que essa contribuição “foi fundamental, tendo em vista que o governo federal não está cumprindo suas atribuições junto às aldeias”. Conforme informações da coordenadoria, apenas no final de maio as aldeias de Rio Grande receberam as primeiras cestas básicas do Governo Federal, diferentemente de outras aldeias da região sul, que receberam muito antes os itens. Ao todo, as aldeias de nossa cidade receberam 20 cestas básicas, a serem divididas por duas aldeias, deixando uma das aldeias sem o auxílio. Tatiana ainda salienta que as cestas chegaram ao município após denúncia ao Ministério Público Federal (MPF), que questionou a FUNAI sobre as cestas que deveriam ter sido entregues para as aldeias do município. Ainda assim, segundo a coordenadora, foi necessário que a Polícia Rodoviária Federal fizesse o transporte dos alimentos, pois a FUNAI alegou não ter recurso para o combustível.
A coordenadora ainda fez questão de demostrar sua gratidão a população rio-grandina, que tem se mobilizado para doar e ajudar de outras formas a população indígena. “Em alguns outros municípios as aldeias não são reconhecidas. Aqui em Rio Grande a população está de parabéns. Procuram a aldeia para doar roupas, luvas, máscara, álcool gel, cesta básica, etc. A nossa comunidade é acolhedora, é solidária no geral. Se não fosse pela ajuda da refinaria, que fez um acordo com a prefeitura, e pela colaboração da população, os indígenas estariam passando fome”, afirmou.
Ela também explica que as doações mais necessárias são de produtos perecíveis. “Os indígenas tem muito costume de comer verduras, frutas e legumes. Então isso faz muita falta para eles e coloca a segurança alimentar deles em risco, pois eles estão acostumados com essa dieta”, ressalta. Portanto frutas, vegetais, legumes e proteínas são os itens mais necessários, já que não estão incluídos nas cestas básicas distribuídas. Todas as doações são organizadas pela CMPPPI para garantir que sejam respeitados todos os protocolos de segurança para COVID-19, e assim evitar que o vírus entre nas aldeias.
Como ajudar
Quem quiser contribuir de alguma maneira, pode entrar em contato com a CMPPPI da seguinte forma:
Telefone: 53999786706
E-mail: tatiane.freitas@riogrande.rs.gov.br
Também é possível participar de grupos onde pessoas de nossa comunidade tem se organizado para auxiliar os povos indígenas da forma que podem. Para fazer parte é só entrar em contato pelo telefone acima.
Produção de máscaras para geração de renda
Outra forma de colaborar com os povos indígenas é por meio da aquisição dos produtos comercializados por eles, como os artesanatos. Neste contexto, a CMPPPI tem participado de uma ação que visa a geração de renda para os povos indígenas. A aldeia Kaigang Goj Tanh, localizada no Cassino, tem produzido máscaras caseiras com artes indígenas, adaptando suas grafias e simbologias para a aplicação em máscara brancas, para posterior revenda.
A iniciativa surgiu após uma pessoa entrar em contato com a coordenadoria querendo auxiliar as comunidades indígenas de nossa cidade. Ela fez a aquisição do material, que foi encaminhado a uma costureira voluntária para a confecção de máscaras. Depois de prontas, uma parte das 100 máscaras produzidas foi distribuída entre as três aldeias do município: Aldeia Yyrembé (Palma) e Aldeia Pará Rokê (Domingos Petroline), da Etnia Guarani Mbya; e Aldeia Goj Tanh (Cassino), da Etnia Kaigang.
“A primeira remessa foi utilizada em uma fase inicial, para testarmos a adesão dos indígenas e a adaptação a técnica de pintura e desenho no tecido, já que eles possuem habilidade de trançar o grafismo em taquara, que é bastante diferente. Oferecemos uma oficina em cada aldeia, apresentando as noções de trabalho com a caneta e as máscaras, e deixamos uma quantidade de máscaras em cada local”, explicou Tatiana. Segundo ela, a aldeia Kaigang Goj Tanh demostrou grande interesse pelo trabalho e tem mantido a produção das máscaras. 12 das 20 recebidas já foram comercializadas. Em breve uma nova remessa será distribuída para a continuidade da produção.
As máscaras com as artes indígenas estão sendo vendidas na porteira da aldeia, das 09h às 18h, na Rua Jovem Airton Porto Alegre, número 79. O custo é de R$20,00. Pelo número 53999786706 é possível receber orientações sobre como visualizar modelos e outros produtos artesanais comercializados pelos povos indígenas. Tatiana ainda ressalta que é possível escolher uma das máscaras e solicitar entrega no centro de Rio Grande, que é feita como colaboração pela equipe da CMPPPI.
Aumento da população indígena de Rio Grande
Conforme dados da Coordenadoria, 27 famílias indígenas vivem em Rio Grande: 17 na Aldeia Guarani Mbya Pará Rokê, em Domingos Petroline; 9 na Aldeia Kaigang Goj Tanh, no Cassino; e uma na Aldeia Guarani Mbya Yyrembé, na Palma. Ao todo, são cerca de 120 pessoas nas aldeias.
Esses números, segundo Tatiana Freitas, representam um aumento considerável da população, de mais de 20%. A justificativa apresentada pelas lideranças das aldeias é de que parentes residentes em outros municípios estavam passando por grandes dificuldades, e foram chamados para residir em Rio Grande, onde o apoio as comunidades indígenas tem se mantido desde o início da pandemia.
“Aqui eles são tratados como pessoas, tanto pela gestão quanto pela população. Nós somos pioneiros na garantia dos direitos, somos o primeiro município do estado a ter um órgão especifico pra questões indígenas e temos uma realidade muito diferente. Alguns outros municípios não reconhecem o indígena, eles não entram em cadastros, não recebem auxílio nenhum. Aqui temos a Coordenadoria e o Conselho Municipal dos Povos Indígenas e eles são reconhecidos. Esses povos recebem, por exemplo, peixes que foram apreendidos, e as abóboras que a Secretaria de Cidadania e Assistência Social recebeu por doação também vão chegar a eles. Além disso temos a horta da Penitenciária, que doa o excedente de frutas e verduras. Isso não acontece em algumas outras cidades. Duas aldeias, de duas etnias, tiveram aumento da população, justamente pelo fato de parentes estarem passando fome em outros lugares e aqui isso não acontece”, argumentou Tatiana.
Além das pessoas nas aldeias, a CMPPPI também presta apoio para duas famílias de estudantes indígenas da FURG. Conforme Tatiana, as famílias dos estudantes os acompanharam na mudança para Rio Grande, e estavam trabalhando como autônomos, informais ou comerciantes. Devido a pandemia, essas famílias perderam grande parte de suas rendas, estando em vulnerabilidade social. Por esse motivo, estão sendo monitoradas e auxiliadas pelo município, por meio da Coordenadoria.
Assessoria de Comunicação PMRG
Fotos: Divulgação CMPPPI