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Soldado

Fui direto para o chuveiro naquela tarde quente. Enquanto lavava o cabelo, vi uma formiga – daquelas grandes e pretas, comuns em qualquer jardim – no canto oposto do box, onde não chegava muita água sem interferência humana.

Eu, uma pessoa normal, fiz o que todo mundo faz: joguei água. O bichinho começou a nadar, tentando encontrar aderência naquele chão molhado. Foi empurrado rapidamente para o ralo e sumiu da minha vista.

Enquanto me ensaboava, vi a formiga novamente. Ela escalava uma das bocas do ralo, renascendo no meio da espuma como a heroína de algum filme para insetos no final do drama.

Naquele dia tedioso, afogar o serzinho virou questão de honra para mim, o animal racional. Usei o chuveirinho, o inseto se agitou para nadar contra a corrente, mas eu era mais forte. Quando a formiga desapareceu uma segunda vez, dei minha missão como cumprida.

Entretanto, quando eu já estava envolto na toalha, a formiga reapareceu. Cambaleante e cansada, arrastava-se ralo, usando suas últimas forças para alcançar a parede do banheiro.

Tive que admitir: o bichinho era brabo. O inseto devia ter família, por isso se esforçava tanto para viver. Bom, ela tinha algum lugar para voltar, formigas possuem grupos sociais extremamente complexos. Pelo pouco que sei, aquela devia ser um soldado.

Decidi que era melhor deixá-la vencer. Eu a levantei até a janelinha do banheiro, onde ficou uns segundos exposta ao sol, ainda tonta, e então seguiu seu caminho, retornando para o formigueiro de onde veio.

Autora: Ingrid Contreira/Inspira

Foto: Pixabay

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