Transelementar
Chove em novembro, mas eu só fecho a janela para não molhar os livros. Empurro o vidro e meu pulso que vive é tocado pela torrente. Num átimo, redescubro que sou onda no mar, milênios no passado, e quebro na areia da praia virgem, que são todas as praias, pois homem não há. Toda areia virgem é uma deusa sem altar.
Deve ser claro e simples ser água, ter sua função definida no ciclo da vida, não frequentar reuniões motivacionais ou correr atrás de metas que sempre são um ponto a mais sobre aquilo que já não conseguimos. Parece bem melhor ser água na virgindade do passado, onde o lamber úmido das ondas era o erotismo vigente, naturalmente insaciável, num “indo e vindo infinito”. Que delírio! Que delírio!
Culpado de tanto, sequei o pulso na bermuda e me converti ao transelementismo, que é essa vontade leve de ser terra, ar, fogo, água, bytes. Vontade leve que me levou ao isqueiro, onde fui vulcão varrendo Pompeia para o Pink Floyd tocar. E fui vento soprando a folha romântica, que é nada mais que um membro decepado do possível deus verdadeiro. E brotei flores de vida sendo terra, flores para amores no início e para coroas pesarosas, do fim muito mais do que provável.
E claro, fui bytes, e por sê-los em larga escala, não me contive, e todos terminamos lendo esse bytecídio, a qualquer hora do dia, em transe, transelementando, transificoisando, transliterarrindo. Beba água.
Autor: Rody Cáceres – Inspira
Foto: Pixabay